"Cavaco Silva diz que 2009 será um ano difícil e lembra que ilusões pagam-se caras"
O discurso do Presidente foi criteriosamente construído e tornava quase impossível que aparecessem manifestações de descontentamento. Mas, a longa declaração de Vitalino Canas, o porta-voz do PS, foi apesar da aparente concordância com a globalidade do discurso, a mais expressiva manifestação do desagrado que o discurso presidencial provocou junto do Governo.
O Presidente colocou o assento tónico na necessidade de termos acesso à verdade sobre as dificuldades que nos esperam e na necessidade de darmos uma resposta às necessidades daqueles que mais vão sofrer com essas dificuldades que aí vêm. Fez o contraponto ao discurso optimista do primeiro-ministro que opta por valorizar os aspectos positivos da nossa realidade. Verdade sobre as dificuldades, verdade sobre a situação do país, com um endividamento insustentável, verdade no rigor na utilizaçao dos dinheiros públicos, ente outros aspectos.
O Presidente da República tem os poderes que tem no nosso sistema constitucional, não lhe cabendo liderar a oposição nem constituir-se como oposição ao Governo. Recordo, no entanto, a Presidência de Soares e o que fez contra o Governo de Cavaco e o quanto isso me agradou na altura. Nesta altura agrada-me que esteja na Presidência da República alguém que não esteja alinhado com a visão socrática do País e da coisa pública - dando de barato que a personagem tem uma - e que vem a público dar-nos conta disso mesmo e, esperando eu que possa condicionar e ajudar a corrigir alguns dos aspectos mais sórdidos desta política, como por exemplo o agudizar das desigualdades sociais.
Não votei no actual Presidente da República mas sinto-me mais representado por ele do que pelo actual Governo.


 

Pedra do Homem, 2007



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