"Avelino Ferreira Torres foi absolvido em tribunal de todas as acusações"
As leis foram feitas para garantir um modo de vida a uma classe profissional: a classe política.
As leis tornam impossível a condenação de alguém por enriquecimento ilícito e mesmo actos de corrupção tentada são sujeitos nos termos da lei a modestas penas capazes de fazer corar de inveja um pequeno carteirista.
A oposição da classe política a uma alteração substantiva da forma de encarar a corrupção é um manifesto em defesa de um modo de vida. A classe política que agora anda pelos 50 anos nunca fez outra coisa além da política - e se fez teria sido melhor não ter feito, como se sabe - e não sabe fazer mais nada. Fora desta actividade não consegue, a menos do clássico trafico de influências cerzido durante o exercício dos cargos, lugar de destaque e remuneração compatível em empresa nenhuma, por uma razão muito simples: notória falta de capacidade. Restam-lhe duas alternativas: amealhar um generoso pé de meia ou aguentar-se o mais possível no exercício de funções. É por isso que os discursos sobre a renovação da classe política e a qualidade da democracia são de uma hipocrisia infinita. A classe política entende-se, acima de tudo, como uma classe sócio-profissional e aspira, sobretudo, às suas regalias corporativas, defendendo ad nauseum a sua estabilidade.
A oposição à limitação de mandatos - veja-se a palhaçada do poder local - e a oposição a um combate efectivo à corrupção são estruturais da manutenção deste modo de vida. Destinam-se a salvaguardar os detentores do poder político, os próprios que fizeram e alteraram as leis. Dir-se-á que quem as aplica difere de quem as aprova como é mister no Estado de Direito, mas quem poderá fazer uma adequada justiça com estas leis concretas?
Isaltino Morais é o senhor que se segue - balizou ontem o único crime de que poderia ser acusado, ilícito fiscal, mas mesmo esse há muito prescrito - e assim sucessivamente.


 

Pedra do Homem, 2007



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