O debate de ontem à noite na SIC-Notícias mostrou um Vital Moreira ao seu pior nível. José Sócrates e o partido socialista meteram-se num grande sarilho com esta escolha.
O professor de Coimbra não encontra o tom adequado de intervenção e oscila entre a vontade de abordar os problemas específicos da Europa e a necessidade de defender o Governo e o partido socialista na sua versão socrática ficando-se numa posição de meias tintas perdido no meio do debate como aquele guarda-redes apanhado em falso a meio da saída a ver a bola passar-lhe por cima. O tom, pouco ou nada convincente, e a falta de ligação entre as suas diversas intervenções além de uma natural falta de acutilância e de firmeza na defesa das suas ideias fazem com que depois de cada debate apenas nos lembremos vagamente da sua presença não sendo possível recordar nada que ele tenha dito. Fica-nos apenas a imagem de uma pessoa um pouco cansada e vagamente enfatuada assim como quem não consegue esconder a chatice que lhe provoca ter de debater com aqueles bárbaros ignorantes das subtilezas constitucionais da União sempre a resvalarem para a chicana e para a guerrinha que ele aliás não se cansa de repetir que não quer vencer. Uma presença apagada e um manifesto erro de casting.
Estando convencido que Vital Moreira aquilo que mais quer é ajudar o PS e José Sócrates em particular sugiro-lhe que meta baixa e que ceda o seu lugar nos debates à sua colega de blogue Ana Gomes. Bem sei que nesse caso José Sócrates vai passar a não assistir aos debates em directo vendo apenas versões diferidas convenientemente expurgadas das partes que os seus acessores entendam mais compatíveis com o seu estado de saúde actual.
O que salva Vital Moreira nestes debates é o tom agressivo e caceteiro adoptado por Paulo Rangel e por Nuno Melo que atacam vigorosamente o candidato manifestando-se incapazes de perceber que não há necessidade de serem tão acutilantes e, algumas vezes, tão irritantes. Devo confessar que algures no meio do debate a agressividade me pareceu tanta e tão trauliteira - sobretudo as mal criadas interrupções constantes com destaque para Nuno Melo que parece ser um daqueles putos da escola malcriados até dizer basta sempre a levantar o dedo para falar e a interromper toda a gente não vá o professor não reparar no seu génio - que já estava a sentir ssolidariedade com o dr. Vital.
O resto do debate não tem grande interesse: O PSD como se sabe concorda com tudo aquilo que o PS entende sobre a Europa - e a inversa também é verdadeira - mas o problema é sempre apenas e só a incompetência do Governo do PS que estraga tudo o que a União Europeia do camarada Barroso denodadamente faz. Uma miséria intelectual e politicamente.
A CDU ao apostar na sua actual candidata garante uma elevada eficácia na repetição do discurso de crítica ao neoliberalismo, crítica que a crise veio valorizar e tornar mais compreensível para largas camadas da população. Não serão intervenções particularmente criativas mas são eficazes e destinam-se a um eleitor muito específico e devem permitir garantir a sua representação actual. A CDU não faz qualquer esforço para descolar da acusação de Vital Moreira de que pertende ao bloco da esuqerda anti-sistémica e anti-europeia, porque tanto quanto se sabe isso corresponde à realidade. A CDU não morre de amores pela ideia de União Europeia.
No caso do Bloco, Miguel Portas mostra eficácia a defender a ideia de uma outra Europa mais social, mais justa, com uma maior regulação política e com uma margem de manobra para os mercados muito mais apertada. Parece ser incomparavelmente aquele que introduz uma maior criatividade no debate e o melhor preparado. Veja-se a referência às declarações de Krugmam sobre o facto de os Estados Unidos estarem a fazer um terço do que é necessário para saírem da crise enquanto a Europa está a fazer um sexto. Veja-se a referência à dimensão rídicula do Orçamento Europeu - cerca de um por cento dos Orçamentos de todos os Estados membros e grande parte engolido pela Política Agrícola Comum - e à incapcidade política para o aumentar canalizando novas verbas para as políticas sociais.
Não espanta que as sondagens dêem conta de uma razia de deputados no PS e de uma crescimento significativo do Bloco.
No entanto, até ao lavar dos cestos ainda é víndima.


 

Pedra do Homem, 2007



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