No dia mundial da criança não nos podemos esquecer dos objectivos do Milénio e do facto, comprovado, de que eles se situam, já hoje, no puro domínio das utopias que não conseguiremos cumprir. Não só não conseguimos reduzir a mortalidade infantil entre 1995 e 2015 em dois terços, como não diminuímos as desigualdades sociais que penalizam os mais pobre aqueles que vivem abaixo do limiar de pobreza, os biliões que nem de um dólar dispõem para prover ao seu sustento e dos seus.
Muitas das crianças em todo o mundo estão condenadas a uma morte prematura, ao analfabetismo, a serem toda a vida exploradas, apenas e só por serem quem são: filhos de pobres e de explorados. Trata-se da única coisa que herdaram: a condição social miserável a que os seus pais já tinham sido sujeitos ao longo de toda a sua vida.
Ninguém pode ignorar que as crianças dos mais pobres estão mais sujeitas à possibilidade de morrer: Ninguém pode ignorar que a pobreza absoluta e a desigualdade estão intimamente ligadas. Ninguém pode ignorar que apena ligeiras modificações na distribuição do rendimento podem reduzir significativamente a pobreza e a mortalidade infantil. Ninguém pode ignorar que o pecado da gula, a ganância, a extrema impiedade do capitalismo, levam a uma acumulação obscena de capital e a uma hiper exploração dos pobres em todo o mundo, agudizando todos os dias as desigualdades.
Bem dizia Sancho Pança, no Dom Quixote de Miguel Cervantes:

"Só existem duas famílias
no mundo, como a minha avó
costumava dizer: os ricos
e os pobres. "
Um dos problemas é que quem exerce a política e está no poder normalmente tem família mas, em regra, não é dos pobres.


 

Pedra do Homem, 2007



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