"PS deve desafiar PCP e BE para o Governo"
Ferro Rodrigues não faz grandes criticas ao Governo e à liderança de José Sócrates mas também não faz grandes elogios. Mas, aquilo que é mais significativo na entrevista é a defesa da tese de que o PS deve em primeiro lugar convidar a sua esquerda para o Governo e só depois admitir uma aliança com o PSD.
Claro que Ferro Rodrigues sabe que essa aliança é quase impossível face às posições tomadas pelos diferentes líderes e face às políticas do Governo PS e ao tipo de orientação que Sócrates lhe imprimiu. Relativamente ao tempo em que Ferro Rodrigues liderou o PS - a última vez em que o PS adoptou uma postura política de esquerda e não de centro esquerda - muita coisa mudou. Não foi apenas "(...) a cristalização do PCP nos seus dogmas dos anos 50(...)" ou o "(...) BE [que] tinha uma atitude bastante mais aberta. Agora, concorre com o PC a ver quem ataca mais as políticas reformistas do PS(...)" Ferro Rodrigues parece ignorar a viragem à direita do PS e as opções políticas feitas pelo seu partido.
Mas, o essencial é a defesa de uma tentativa de acordo à esquerda. Sócrates não irá por aí porque não encontra qualquer mérito numa política mais à esquerda. Não subscreve a tese de Alegre de que "falta esquerda na política portuguesa." O PCP e o BE não irão por aí, pelas razões que se conhecem.
Ferro Rodrigues sabe que não há nenhuma solução política de governação à esquerda sem o PS ou contra o PS. Sabe que a curto-médio prazo esse cenário não se coloca. Ora, o longo prazo pode ser um tempo aceitável para os políticos mas é um tempo excessivo para os cidadãos. Por isso, passados estes próximos tempos, quem não negociar a partir das posições que o povo lhe atribuíu será excluído. Serão os cidadãos a determinarem essa evolução. Negociar em torno de projectos políticos e de plataformas de entendimento que respeitem o essencial dos projectos de cada um.
O PS actual acha que a sua esquerda está limitada pelo facto de se colocar sistematicamente fora do Governo e recusar qualquer entendimento com o PS, apostando - a recuperação da miragem/utopia comunista - na sua substituição. A esquerda do PS, que cresceu muito nos últimos anos particularmente o BE, acha que as políticas do Governo e as suas consequências sociais irão potenciar o crescimento político dessa mesma esquerda e aumentar a sua influência política, minimizando ou até substituindo o PS. Julgo que nenhum dos lados tem razão, embora nas próximas eleições legislativas e autárquicas se vá, julgo eu, poder concluir que a a esquerda do PS tem razão.


 

Pedra do Homem, 2007



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