isto & aquilo

Foi com Black Cross (Cruz Preta sobre Fundo Branco, em português), que, em 1915, Kasimir Malevitch assinou o primeiro manifesto do suprematismo. Assumindo a condição de precursor desta corrente, Malevitch pretendia, assim, libertar a pintura do escravatura da paisagem, do retrato e do real, afirmando que a pintura existia por si, antes de tudo o resto, no próprio artista, não necessitando da ideia da formação de imagens e da figuração como cópia da realidade. O que tentava alcançar era a «supremacia das formas», na primeira manifestação de abstraccionismo geométrico puro. O suprematismo abriu caminho a novas abordagens na pintura – como os famosos ensaios de "branco sobre branco" – e a simples cruz preta sobre fundo branco é uma das obras mais estimulantes do Centre Pompidou.

Eu entendo que existem mais relações como a que Malevitch encontrou entre a pintura e a realidade. Uma delas usa-se da liberdade.

Quando associamos a liberdade a um momento certo no tempo e a cristalizamos aí, perdêmo-la antes de a termos. Quando a fazemos festa folclórica e vazia, vivida militantemente uma vez por ano, escapa-se-nos a essência. Quando a impomos por decreto, ela deixa de existir.

Por que é que há tanta gente preocupada a festejá-la e tão poucos decididos a vivê-la?

O todo e a parte. A ditadura da liberdade. Que liberdade? Alguma, instituída? Já existia, antes de a conhecermos. Agora, arrogamo-nos como seus fiéis defensores, tomámo-la como só nossa, restringimos o conceito a festas e feriados. Confundimo-la, de forma mais ou menos honesta, com a verdade possível, com os nossos triunfos, como um troféu. Liberdade?

Que fique claro que, para mim, a liberdade é livre.


 

Pedra do Homem, 2007



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