Luís Nobre Guedes foi um ministro coerente. Tal como mandou para o lixo a proposta de revisão da lei da RAN elaborada por Sidónio Pardal, não teve nenhuma dúvida em aprovar o abate dos sobreiros na Herdade da Vargem Fresca em Benavente. Embora alguns comentadores tenham aplaudido a primeira medida, indo ao ponto de o classificar como um bom ministro do ambiente por essa razão, não hesitarão em o vilipendiar pela segunda atitude. Estamos de facto perante duas faces da mesma moeda, ou melhor da mesma política, isto é perante a mesma submissão aos interesses do imobiliário que se alimenta das mais-valais geradas em processos de mudança do uso do solo. Mudanças de uso que são afinal a passagem do uso rústico -agrícola ou florestal - para o uso urbano. Mudanças que por serem possíveis, com maior ou menor dificuldade, e o respectivo preço a pagar, incluindo ou não o necessário parecer de desafectação da REN e da RAN, fazem com que os preços dos terrenos rústicos sejam referenciados pelo preço do uso urbano tornando virtualmente impossível a sua exploração agrícola e florestal.
Para evitar esta situação bastaria que o solo rústico não fosse objecto da atribuição de índices nos PDM's. E que os usos agrícolas e florestais fossem protegidos e defendidos da procura urbana. Coisas simples mas que poriam em causa tanto projecto falsamente estruturante e essa verdadeira mania nacional que é a segunda habitação.(Somos recordistas a nível europeu na posse de segunda habitação)
Estes processos não são fáceis de entender na sua totalidade. Exigem estudo aturado dos problemas. Estamos perante uma àrea em que muitas vezes aquilo que parece não é. Como no caso do ministro que parecia ser um bom ministro do ambiente. Mas que não era.


 

Pedra do Homem, 2007



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