O aproximar das eleições autárquicas não parece ser motivo suficiente para estimular o debate sobre as questões que, aparentemente, são decisivas para que o poder local deixe a apagada e vil tristeza em que tem vegetado. No entanto pelo que se pode observar constitui uma excelente oportunidade para redefinir a "sociologia" das nossas vilas e cidades, que as aldeias desapareceram vítimas do "decretado" progresso. Em particular as apresentações das candidaturas dos partidos, que em cada concelho podem aspirar a vencer as eleições, são um bom momento de observação. Se pegarmos no partido A, no poder desde o tempo dos afonsinos, que recandidata o actual presidente para derrotar todos aqueles que se opõem ao progresso e desenvolvimento da santa terrinha - que já não estão no poder desde o tempo dos visigodos - e no partido B, que aposta num senhor muito amigo dos pobres e da terra, que vai tentar pela enésima vez conquistar a autarquia "para fazer o que faz falta", o que é que constatamos? Na apresentação dos candidatos o conjunto das pessoas que estiveram presentes em cada um dos actos apresenta uma considerável sobreposição. Quem são essas personagens que fazem questão de estar presentes em todas as apresentações de candidaturas que tenham alguma hipótese de vencer? São as "pessoas importantes" da terra. Aqueles cuja presença é sempre bem-vinda e cuja ausência deixa uma amarga sensação de vazio e de orfandade nas candidaturas. São politicamente andróginos e, em boa verdade, nunca se sabe em quem votaram ou votarão. Tão pouco se sabe como abrem os cordões à bolsa. O que é certo é que a sua presença justifica a cobrança que irão fazer, mais tarde, ganhe quem ganhar. Afinal a sua única ideologia é a dos seus interesses que alguns políticos de asa curta e bolso farto confundem com "desenvolvimento".


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats