Morreu Alvaro Cunhal. Um dia de luto para Portugal. Morreu uma das personagens maiores da história política do nosso último século. Combatente insuperável contra a dituadura salazarista. Combate que no seu caso significou a própria perda da liberdade que sofreu nas prisões fascistas. Depois do 25 de Abril tentou implantar em Portugal o modelo de sociedade que sempre defendeu: uma sociedade socialista inspirada nos modelos do socialisno real que estavam implantados na União Soviética e nos países do bloco de leste. Falhou este segundo objectivo. Mas manteve-se sempre fiel ao seu ideal de comunista e acreditou sempre ser esse modelo de sociedade o que melhor servia Portugal.
Foi um homem de uma grande coerência. Mas devemos dizer que essa coerência foi a sua maior virtude e a sua maior fraqueza. Por um lado permitiu-lhe manter a fidelidade às suas convicções e ideias num mundo em que são cada vez mais raros os homens políticos capazes de defenderem ideias e convicções. Por outro lado essa inflexibilidade ideológica não lhe permitiu mudar mesmo quando as manifestações de degradação nos países de leste eram já incontornáveis. Continuou, mesmo nessa altura, a defender para Portugal o modelo que falhava em toda a linha nos países do realismo soviético.
Foi além do homem político um intelectual. Escritor e artista plástico possuidor de uma cultura acima da média ele que sendo de origens burguesas se considerava "um filho adoptivo do proletariado".
Foi um homem de uma dimensão rara gerador de ódios e de paixões como só acontece com os grandes homens.


 

Pedra do Homem, 2007



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