A notícia do Expresso do fim de semana não constitui qualquer surpresa. Na GALP o dinheiro para pagar aos amigos e àqueles que podem "servir" a empresa nunca falta. Seria interessante saber quem recebeu indemnizações na empresa, nos últimos anos, e que lugares iam ocupar no momento em que as receberam.
Duzentos e noventa mil euros nem sequer é, certamente, a indemnização mais elevada já paga. Quanto aos familiares dos Ministros e de outras "pessoas importantes" também não há nenhuma novidade na coisa. Podemos ir por aí fora e falar de familiares de autarcas de dirigentes partidários etc. Tal como podemos falar da apetência da classe dirigente para comprar anos de serviço. Exactamente os mesmos que, quando ascendem ao poder político, logo recorrem ao adiamento da idade da reforma, dos outros, para tirar o país da crise. A famosa questão da dupla moral da classe política e empresarial. As tais elites sempre agarradas às grandes empresas e à teta do Estado.
O antropólogo Paulo Granjo num excelente livro, que tem como base a sua tese de doutoramento, cujo título é "Trabalhamos sobre um barril de pólvora" - Homens e perigo na refinaria de Sines" no capítulo 4 sob o título "Emprego e Dependência" analisa o "sistema de patrocinato" existente na empresa e a sua relação com o perigo laboral. Não resisto a citar " É verdade que, circulando na fábrica (...) rapidamente nos apercebemos de que os relacionamentos internos e, sobretudo, a admissão de pessoal são marcados por um sistema operante de nepotismo e outras formas de favorecimento e dependência." (página 111 e seguintes). A profunda ignorância instalada nos média fez esta obra passar relativamente ignorada. Parece valer mais uma primeira página do Expresso do que alguns anos de trabalho sério.


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats