Foi a resposta que Sá Fernandes deu ao jornalista quando este lhe perguntou qual a sua preferência entre Carmona Rodrigues e Manuel Maria Carrilho. Mas parece ser esta frase a melhor síntese da sensação que os debates autárquicos sobre Lisboa vão transmitindo: Lisboa merece, de facto, mais. Sá Fernandes pareceu levar vantagem no debate. Em primeiro lugar contra- atacou com veemência o apelo de Carrilho ao voto útil da esquerda na sua candidatura. Acusou essa postura de anti-democrática. Mostrou estar mais bem informado sobre a realidade da cidade do que Carrilho, o que não admira dado o seu envolvimento com a discussão pública de tantas matérias que têm a cidade como pano de fundo. Apresentou-se com um programa já devidamente elaborado. Estranhamente nesta altura Carrilho ainda não dispõe do seu.
Sá Fernandes promete fechar as empresas municipais - tão criticadas por tanta gente - Carrilho quer mudar a gestão. Defendeu a municipalização da Carris e do Metro ao serviço de uma política de transportes que faça do transporte público o elemento central. Sobre os corredores bus mostrou conhecimento. Não serve para nada duplicar o número de coredores. O mais importante é torná-los funcionais.
Na questão do Túnel, Carrilho quis claramente atribuir a Sá Fernandes a responsabilidade pelos incómodos causados com a paragem das obras. Não pareceu bem. O argumento foi o de que a iniciativa do seu opositor fora meritória mas tinha sido feita fora do tempo. Ficou sem resposta para a contra-argumentação de Sá Fernandes: "porque é que não fez o senhor antes?"
Carrilho insistiu na resolução dos problemas da circulação automóvel com medidas de engenharia de trânsito. Ambos os candidatos esqueceram a questão dos milhares de cidadãos que são forçados a viverem na periferia. Deve haver alguma má consciência da esquerda que impede os seus candidatos de discutirem a questão da habitação em Lisboa.
Relativamente ao urbanismo a discussão foi paupérrima. O urbanismo em Lisboa são os negócios da Feira Popular - Carrilho não quis falar do passado enquanto Sá Fernandes denunciou o escândalo das permutas efectuadas por Santana e Carmona - e o Parque Mayer. Pouca coisa ou coisa nenhuma para falar com rigor.
Momento pior de Carrilho: quando acusou Sá Fernandes de querer extinguir tudo como Santana Lopes. Ninguém acredita na seriedade desta comparação, talvez nem Carrilho.
Momento pior de Sá Fernandes: a incapacidade de trazer para o debate a questão da habitação e a necessidade de travar a expulsão de milhares de lisboetas para as periferias.


 

Pedra do Homem, 2007



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