Deu entrada na Assembleia da República uma petição para que seja revogado o decreto 73/73 para que só os arquitectos sejam autorizados a assinar projectos de arquitectura.
Compreendo a iniciativa pois o que se trata é de garantir para uma classe profissional o exclusivo do exercício de uma determinada profissão e consequentemente a apropriação pela totalidade do mercado dioponível. Estamos perante uma questão de natureza corporativa.
Não aceito, por serem obviamente falsos, os pressupostos de que uma tal medida irá melhorar as cidades, ou mais ridículo ainda, melhorar o território. A confusão deliberada entre arquitectura e urbanismo é um discurso fomentado pela OA para iludir tolos. Infelizmente, a generalidade dos arquitectos pouco tem feito para alterar o estado das nossas cidades ou do nosso território. Por incompetência e por falta de preparação. Até porque desde há décadas a generalidade dos projectos de arquitectura que dão entrada nas câmaras, de todo o país, são assinados por arquitectos. Como acontece em Lisboa, no Porto, e na generalidade das cidades há décadas. Em Lisboa desde Kruz Abecassis. Para não falar da grande encomenda pública ou dos grandes promotores imobiliários que em exclusivo recorrem a arquitectos. As cidades e o território é que não têm melhorado.
Os arquitectos, no seu próprio discurso, não são responsáveis pelo que se tem passado. Nem pela progressiva degradação da qualidade estrutural dos edifícios ou pela bandalheira da qualidade de construção. Isso é culpa dos engenheiros civis. Ora estas questões alteraram-se com o reposicionamento dos diversos actores no processo de edificação.
Julgo que o decreto 73/73 irá ser revogado. Se há coisa que a nossa classe política gosta é das grandes causas e do politicamente correcto.
Calatrava, Normam Foster, engenheiros civis de formação, Tadao Andoo, autodidacta - e Luís Barragan (engenheiro civil) ou Frank Loyd Wright( que frequentou um ou dois anos do curso de engenharia civil, e mais nada), se fossem vivos - não podem continuar a projectar em Portugal. Tal como aconteceria com Cassiano Branco,um dos mais notáveis arquitectos portugueses, que nunca concluiu a licenciatura. Edgar Cardoso, se fosse vivo, nunca mais poderia projectar uma ponte, coisa para arquitectos, o mesmo acontecendo com Segadães Tavares e outros tantos.
As cidades vão melhorar muito, do território nem se fala.


 

Pedra do Homem, 2007



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