Gosto da intervenção política de Louçã. Durante esta campanha - apesar das críticas que formulei ao longo destes meses sobre a sua candidatura - armado com um conjunto de propostas que são mais de um candidato a primeiro-ministro do que de um candidato a presidente, Louçã acrescentou valor ao debate. Em muitos casos, do que se disse sobraram as suas propostas. Nos debates mostrou que é hoje um dos políticos portugueses melhor preparados e um dos adversários mais temíveis para um debate. Tudo isso fui analisando ao longo dos meses. No entanto, há várias semanas que estou convencido que Louçã terá um pior resultado do que Jerónimo. Por duas razões: a primeira tem a ver com o estilo de Louçã, menos afectivo, mais intelectualizado, mais distante. Louçã é timido onde Jerónimo é afectuoso, quase íntimo não se poupando ao populismo. Louçã racionaliza argumentos que expõe de forma metódica, organizada embora com convicção. Não necessita da proximidade. As sessões de campanha divulgadas na televisão mostram um candidato em regra só no meio de um palco, de corpo inteiro. Poventura a reforçar a ideia do candidato olhos nos olhos. O público está atrás da imagem e assiste como nós; por outro lado, quer-me parecer que a capacidade de crescimento de Louçã - muito condicionado no eleitorado do PCP pelo efeito Jerónimo - se faz sobretudo à custa do eleitorado PS. O aparecimento de dois candidatos nessa área e o apelo final a uma mobilização à volta de Soares, para permitir a passagem do velho líder à segunda volta, farão os seus estragos. Há, no entanto, uma oportunidade que resulta da elevada abstenção existente nessa área. Se Louçã conseguir mobilizar e captar votos desses indecisos, obterá um resultado histórico e a esquerda ficará a dever-lhe a existência de uma segunda volta. É que toda a gente já percebeu que nos últimos dias não diminuiu o número daqueles que escolheram votar Cavaco, o que aconteceu foi que cresceu o número dos que decidiram votar à esquerda. Este é o caminho virtuoso neste final de disputa.
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