Jerónimo sobe ao palanque, já liberto do ar simpático dos dias da campanha, e acusa sem remorso: a culpa é de Alegre; a culpa é dos socialistas. Jerónimo "by the book". A divisão da esquerda acaba à porta do PCP e responsabiliza todos menos os comunistas. Pois se ele próprio até registou uma subida espectacular. Não em todos os locais, no entanto. Um conjunto globalmente superior de votos feito, felizmente para o PCP, de mais ganhos e menos perdas.
A imprensa olha de longe para os resultados e diz que Jerónimo ganhou em Beja. Pois foi com mais 100 votos do que Cavaco. Cavaco que ganhou em mais concelhos do que Jerónimo e que teve mais votos do que Jerónimo em concelhos - caso de Beja -nos quais em Outubro a CDU obteve maiorias absolutas. Como aconteceu em concelhos do distrito de Setúbal, de maioria absoluta comunista, nos quais Alegre e Soares juntos dividiram entre si os tradicionais votos do PS e Cavaco apareceu como o mais votado - quando PSD e PP normalmente não chegam juntos aos 20%. Com Jerónimo a obter menos de metade dos obtidos pela CDU em Outubro, casos de Sines e de Santiago-do-Cacém. Jerónimo obteve subidas espectaculares nalgumas regiões do país mas viu fugirem votos aos comunista noutras zonas. A ideia de que Cavaco só ganhou votos à esquerda aos socialistas é uma ficção. Não querem admitir a realidade por pura conveniência. Tal como não querem admitir a verdadeira natureza de muitas das maiorias absolutas autárquicas que preservam há décadas.
Os culpados são sempre os outros. Talvez seja sensato admitir que os eleitorados são muito volúveis e que as bases sociais de apoio já não são o que eram.


 

Pedra do Homem, 2007



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