Na discussão em curso na blogosfera sobre o choque de civilizações e sobre as teses de Samuel Huntington parece-me interessante visitar as teses de Manuel Castells sobre esta questão. Diz o sociólogo catalão (perguntado sobre se o confronto entre o Islão e o Ocidente traduz um choque de civilizações) : " Não é um choque de civilizações. As teses de de Samuel Huntington são uma simples racionalização de ideias xenófobas que não é séria, mas funciona muito bem porque apresenta-nos a "nós" contra "eles", que é o que Bush tem proposto nos últimos anos. O que está em causa é a geopolítica e o controlo do petróleo. No Iraque, existe uma ocupação neocolonialista. Depois, há um conflito de identidades usado pelos neoconservadores para construir uma atmosfera de terror. A globalização desintegrou as instituições tradicionais, como o Estado Nação. As pessoas refugiam-se na identidade, na religião, no nacionalismo, na etnicidade. No caso do Islão, pessoas muito modernas, que frequentaram as melhores universidades do mundo acham-se rejeitadas por causa da religião. É um conflito de identidades que não é contra os cristãos, mas contra uma força anónima, a globalização."
Questionado sobre se existem nosEUA movimentos identitários defensivos semelhantes ao fundamentalismo islâmico Manuel Castells responde: " Absolutamente. Os cristãos fundamentalistas estão contra o mundo moderno e a globalização. Representam 25 a 30 por cento do eleitorado republicano. Nenhum presidente republicano pode ser eleito contra estes grupos que estão muito bem organizados.Isso está a enfraquecer o poder norte-americano, a transformá-lo numa sociedade cada vez mais religiosa a partir do topo."

Extractos de uma entrevista concedida ao Diário de Notícias publicada na edição de 5 de Fevereiro de 2006.


 

Pedra do Homem, 2007



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