Vicente Jorge Silva interpela o ministro Augusto Santos Silva sobre a criação da ERC e não só. Recomenda-se a leitura integral do texto mas deixo aqui algumas citações:
"(...)Gostaria, sinceramente, de não me ter enganado a teu respeito, mas quando te oiço ou leio a dar laboriosas explicações sobre os excelentes e inocentíssimos propósitos da nova entidade reguladora dos media, a ERC, pergunto-me qual de nós se terá equivocado: se eu, por excesso de candura, se tu, por excesso de cinismo político(...) ; "(...)É certo que nunca conseguiste esconder a atracção que o exercício do poder exercia sobre ti, a ponto de levar-te a adoptar atitudes de conveniência e manobrismo político que não traduzem o fundo daquilo em que acreditas. Mas, precisamente, nunca te mostraste convincente, credível e eficaz nesse papel, em especial quando foste ministro da Cultura do último Governo de Guterres e, nessa qualidade, te sujeitaste a ser instrumento da vocação manipuladora do teu colega José Sócrates relativamente à RTP(...)"; "(...)Mas uma coisa é a actividade reguladora desempenhada por uma entidade acima de toda a suspeita e outra coisa bem diferente é criar uma ERC com competências dúbias e obscuras, formada num ambiente politicamente opaco e com base em critérios de escolha (não apenas do seu presidente como também dos restantes membros) que nos remetem para as piores práticas do arranjismo e clientelismo político-partidário, ainda por cima escudadas no álibi hipócrita da legitimidade parlamentar. Se juntarmos a isto as nebulosas prescrições do Código Penal sobre o "crime de perigo" ou as cláusulas ínvias sobre o "sigilo das fontes", é lícito perguntar se o poder político não está a utilizar a reconhecida necessidade de regulação dos media como um pretexto grosseiro para a sua domesticação(...)."


 

Pedra do Homem, 2007



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