Todos os Presidentes da República ficam na História escrita. Mas há os que a ultrapassam, por via dos acontecimentos políticos que marcam o seu mandato ou por via dos desígnios do seu “projecto” político.
No caso do Presidente Jorge Sampaio, os factos políticos, nomeadamente no segundo mandato, sobrepuseram-se à sua figura e ele, apesar de ter conseguido, ainda assim, transmitir a serenidade que se exigia ao Presidente, não foi capaz de congregar em si próprio a força e o peso de uma decisão marcadamente sua.
Sampaio foi um Presidente pouco carismático do ponto de vista político, cujos mandatos não alcançaram o distintivo de um desígnio próprio. Essa falta de eloquência política fez de Sampaio um Presidente demasiado cuidadoso, quase resvalando no receio de actuar, o receio de ter inimigos; um Presidente que com o passar do tempo parecia ter-se demitido do sentido da política, transformando-se num cidadão exclusivo, um quase-rei que sossega as hostes sem um rasgo imprevisível; um Presidente de discursos um nada redondos, quase ambíguos; um Presidente irregular do ponto de vista anímico, acessível, mas reservado, jovial mas sensato.


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats