Escultura de A. Giacometti

Não sou entendida em arquitectura, no entanto, parece-me que muitas obras que se erigem nos dias de hoje, são projectadas por arquitectos que gostariam de ter sido escultores.
Quando os projectos são destinados à habitação particular e são desenhados e construídos com aceitação dos proprietários, não tenho nada a apontar, é apenas uma questão de gosto. Mas quando os mesmos são destinados a fins públicos, erguidos com financiamento público, mesmo os leigos na matéria, como eu, têm o direito a ter uma opinião: a opinião de um utilizador, de um dos que usufruem esses espaços e os partilham com os outros.
Nos dias de hoje, os edifícios construídos com pressupostos públicos, deveriam-se impor pela sua sobriedade, pela qualidade da sua construção, pela beleza de uma iluminação bem direccionada, e, sobretudo, pela funcionalidade dos espaços que no futuro as pessoas, capacitadas e incapacitadas, vão usufruir.
Existem muitos edifícios onde podemos desfrutar estas qualidades. Sentimo-nos bem nesses espaços, em raros momentos nos agridem, ainda que a cada passo, a cada recorte de janela, se presencie a mão, o cunho e a originalidade do arquitecto que o projectou.
Estou a lembrar-me do edifício da Escola Superior de Educação em Setúbal, da autoria de Siza Vieira. É um edifício que não se impõe pela presunção do autor, antes pela qualidade de um projecto que, tanto no exterior como no interior, soube envolver a obra com a natureza circundante e soube dar uma dinâmica a todos os espaços. Entendeu a função dos espaços humanos, entendeu as pessoas nesses espaços, percebeu que as pessoas também são os espaços que habitam, que se moldam, se retraiem, se expandem de acordo com a "casa".
Infelizmente, existem muitos edifícios que apesar de concebidos a partir de um projecto largamente reconhecido, pertencem a uma outra linha da arquitectura. São espaços que nos surpreendem, mas que também nos "esmagam". Esses edifícios têm salas onde nem todas as esculturas de Giacometti ou Rodin retirar-lhes-íam a imposição. Esses edifícios querem ser esculturas, querem ser uma espécie de arquitectura intelectual.
Apesar da unanimidade em considerar a obra um exemplo da nova arquitectura, apesar dos prémios, permitam-me que uma simples utilizadora do espaço possa dizer que um dos exemplos desta útlima arquitectura a que me referi seja o projecto de Aires Mateus do Centro das Artes de Sines.


 

Pedra do Homem, 2007



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