O discurso de Cavaco Silva foi um discurso interessante do ponto de vista político. Fez uma criteriosa análise dos problemas com que os portugueses se deparam. Problemas de exclusão social, de uma pobreza cruel, de desigualdade na distribuição da riqueza - é verdade o Presidente da República falou desta questão - de baixos salários.
Em tese poder-se-á dizer que estamos perante um discurso que não se pode avaliar como sendo crítico ou de oposiçao ao Governo. Um discurso de centro-esquerda que traduz respeito pela sua base social de apoio. Poder-se-á concluir que o Presidente da República e o Primeiro-Ministro estão em sintonia.
Mas ... Cavaco nada adiantou sobre as soluções para os problemas que identificou. Ora aí é que se pode estabelecer, ou não, alguma clivagem com o Governo.
Sócrates e o seu PS, com uma nova natureza, - na feliz expressão de Maria José Nogueira Pinto - não parecem pretender questionar minimamente as razões que conduzem a esta sociedade cada vez mais desigual. Estão no entanto empenhados -uma diferença para o PSD e para o PP - em tornar esta sociedade mais aceitável, diminuindo as dores daqueles que são excluídos. São - a tal nova natureza passa por aí - assistencialistas e nunca serão socialistas no sentido de promoverem uma sociedade mais justa em que os mecanismos de fomento da desigualdade sejam anulados. O assistencialismo é, como se sabe, impotente porque se recusa a ir à raiz do problema.
Talvez seja nesse plano que Sócrates e Cavaco possam, mais facilmente, fazer coisas em conjunto. Nesse caso será claramente injusto classificar o discurso de Cavaco como um discurso de centro esquerda. A mesma injustiça que está presente naqueles que classificam o actual governo como sendo de esquerda. Um erro que Maria José Nogueira Pinto não comete.


 

Pedra do Homem, 2007



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