Fotografia de Tina Modotti, Roses, 1925
@ The state of Tina Modotti

Quando a vida ainda é um amplo e ilimitado espaço, vivem-se as melhores coisas com arrebatado brilho, com tanta exaltação que o peito parece ser pequeno para abarcar tanta beleza, tanta felicidade. E o peito, nessa altura, é, na verdade, facilmente ultrapassado pelo fulgor das coisas, ainda não percebe o que quer realmente dizer a palavra efémero. Desconhece o sentido do que é finito. Vive-se a ilusão de que tudo é eterno.
Só mais tarde é que percebemos a verdadeira importância dos sentimentos, da beleza e o lugar dos outros na nossa vida. Só mais tarde é que se alcança a significação do que é partilhado com os outros e os momentos que passamos com os nossos amigos. Só mais tarde é que aprendemos a perdoar e a relativizar o que gostamos menos nas pessoas. Só mais tarde é que percebemos que não devemos ter medo de acreditar, de arriscar e de dizer o que nos diz o coração. Só mais tarde é que entendemos o valor das palavras ditas, do passado e do tempo.

Graças quero dar ao divino
labirinto dos efeitos e das causas
pela diversidade das criaturas
que formam este singular universo,
pela razão, que não cessará de sonhar
com um plano do labirinto,
pelo rosto de Helena e a perseverança de Ulisses,
pelo amor que nos deixa ver os outros
como os vê a divindade,
pelo firme diamante e a água solta

(...)

Excerto do poema " Outro Poema dos Dons"
de Jorge Luís Borges


 

Pedra do Homem, 2007



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