O presidente da República inicia a sua primeira "presidência aberta" - chamo-lhe assim para simplificar - a chamar a atenção para as regiões periféricas, o envelhecimento e a exclusão.
Começa bem sobretudo se desse périplo pelo país resultarem medidas que ataquem o verdadeiro cancro que corroi a sociedade portuguesa: uma distribuição tão desigual dos rendimentos que não encontra paralelo na União Europeía.
Em Portugal os 20% mais ricos têm sete vezes mais rendimentos do que os 20% mais pobres. A média na UE é 4,6 vezes. Mais de 15% da população vive em situação de pobreza permanente, quase o dobro da média europeia. Se a isto juntarmos o facto de o Estado providência em Portugal não passar de uma mesquinha caricatura do que sepassa na generalidade dos países europeus estamos entendidos sobre a situação em que vivem, neste país, quase dois milhões de portugueses.
O enunciado que Cavaco faz do problema parece-me, pois, justo. Associar pobreza a desigualdade na distribuiçao do rendimento faz sentido. Afasta-se pelo menos daquela perspectiva beata que não dispensa a possibilidade de um ainda maior aumento na desigualdade da distribuição do rendimento gerar um significativo aumento das esmolas que os bons coracções dos bafejados pela fortuna canalizam para iludir momentaneamente a dor dos pobres.
Vamos ver se depois chegamos à fase em que se ataca o problema na raíz em vez de se persistir na análise e no diagnóstico nunca concretizando medidas e políticas corectoras.


 

Pedra do Homem, 2007



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