A forma como nestes últimos dias os "analistas" têm analisado o falhanço do investimento numa nova refinaria em Sines é revelador do estado da arte no que se refere ao jornalismo de opinião que se pratica. A regra geral tem sido a crítica ao governo de Sócrates pelo falhanço do projecto já que o Governo tinha antecipadamente anunciado o acordo com o empresário (foi isto que o Governo anunciou, um protocolo de entendimento?). Neste particular os analistas seguem a par e passo a argumentação política em particular do PSD e do PP.
Primeira questão: ninguém aparece a afirmar que o rotura no acordo entre o investidor e o Governo é boa para o país já que disponibiliza pelo menos 800 milhões de euros de investimento público e liberta o país de um intolerável acréscimo de emissões poluentes;
Segunda questão: ninguém aparece - com excepção de Nicolau Santos, no Expresso - a ter a honestidade de reconhecer que entre a apresentação do projecto e o momento da ruptura, Patrick Monteiro de Barros alterou radicalmente todos os seus parâmetros essenciais: as emissões passaram de 2,5 m.t.CO2 para 7 m.t.CO2; a parte destinada à exportação passou de 100% para 50%, alterando na mesma proporção a contribuição do investimento para o equílibrio da Balança de Transacções Correntes; os fundos públicos mobilizados passaram de 800 milhões para 1200 milhões .
Em consequência destas alterações promovidas unilateralmente pelo empresário um Governo digno só podia fazer uma coisa: encerrar o processo. Foi o que aconteceu.
Terceira questão: ao longo destes meses nenhum jornal nacional perdeu um único minuto a falar na situação já existente em Sines e em questões tão comezinhas como a qualidade de vida das populações, os sistemas existentes de controlo da poluição, a monitorização dos problemas de saúde. Como cantava o Chico Buarque, algumas décadas atrás: a dor da gente não sai no jornal.


 

Pedra do Homem, 2007



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