O discurso de Cavaco Silva e os comentários que suscitou levam-me a recordar um livro da autoria de Joseph Stiglitz, economista que foi Prémio Nobel em 2001 e ex-conselheiro de Bill Clinton, de título "Globalização a grande desilução"(*) e em particular o prefácio do professor António Simões Lopes.
Escreveu o economista português: "(...) A justiça social, assente na procura da equidade, é outro dos valores que no campo dos príncipios deve impor-se, sem o que não fará sentido falar-se de Desenvolvimento. Stiglitz tem vindo a manifestar de forma insistente e consistente, já de longa data, grandes preocupações quanto ao crescimento económico e à sua necessidade, mas em permanente ligação com a distribuição. No seu campo de interesses assume lugar privilegiado uma visão equilibrada do papel do Estado, ênfase crescente na importância do conhecimento e uma preocupação igualmente crescente sobre a equidade e as inter-relações "equidade -crescimento". Defende ele a práctica de um "contrato social" em que o pobre partilhe dos ganhos do crescimento e o rico partilhe também dos custos das crises; e contesta, rejeitando, os príncipios dos que defendem simplística e hipocritamente que a melhor forma de ajudar os pobres é fazer a economia crescer. À sua demonstração de situações concretas em que o crescimento trouxe declínio do rendimento real dos mais desfavorecidos ( a América dos anos 80, por exemplo) juntaríamos nós que, justamente no campo dos príncipios, a distribuição não deve ficar à espera da criação de mais riqueza.
Tudo isto, de resto, tem a ver com a auto-estima, que sendo valor do Desenvolvimento deve também assumir-se como factor de Desenvolvimento.
A expressão mais viva de degradação da auto-estima está na exclusão de alguns do processo de Desenvolvimento, e o desemprego pode dar ideia da extensão social da exclusão.(...)"

(*) - Globalização. A Grande desilusão de Joseph E. Stiglitz. Edic. Terramar. 2004 (3º edc).


 

Pedra do Homem, 2007



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