Sócrates é hoje em dia uma quase unanimidade no PS. Está-se perante o primeiro-ministro mais corajoso da democracia afirmam os socialistas ainda incrédulos com esta evidência. Supostamente acham de si próprios que lhes faltava a coragem. Manifesta falta de memória colectiva e manifesta falta de respeito por dirigentes corajosos como Mãrio Soares que tomou medidas impopulares na década de oitenta que custaram eleitoralmente muito caro. Mas memória é coisa que não abunda. Se ela existisse seria possível recordar os tempos de António Guterres. Nessa altura para os socialistas Guterres era o primeiro-ministro mais inteligente e mais dialogante da democracia. Características que aliás agora ninguém imputa a Sócrates.
Mas da coragem de Sócrates já muitos de nós começamos a duvidar. Parece que estamos perante mais da mesma coragem do costume. Coragem para tomar as mesmas medidas de sempre em favor dos do costume. Vejamos a questão do crescimento. Sócrates fala de crescimento tout-court. E contenta-se com pouco. Contenta-se com 1% ou menos. Não é capaz de afirmar aos Portugueses que este crescimento é uma merda e que com ele estamos a empobrecer cada vez mais. Que precisamos de mudar e de crescer 3 ou 4 ou 5% ao ano durante muitos anos. Será porque não tem a solução para esse milagre? Talvez Sócrates esteja seguro de que nãqo sabe como tirar o país do buraco em que caiu. Assim opta por tomar medidas que, apesar do país, melhoram a vida de algumas famílias. As do costume, aquelas cujos interesses são habitualmente tratatados no jargão político como "de interesse nacional".
Baixar a repressão fiscal sobre as pequenas e médias empresas, reforçar o combate à evasão fiscal dos grandes grupos económicos, alterar a tributação da banca, diminuir o IVA para 17%, baixar a contribuição das empresas para a S Social indexando a contribuição ao produto e não ao posto de trabalho, reter as mais-valias urbanísticas, combater a corrupção, limitar drasticamente o endividamento municipal, emagrecer o Estado limitando ao mínimo - reduzir os gastos a 10% dos actuais em 5 anos - a Administração Indirecta do Estado e a Administração Local do Estado, etc são coisas que nunca lhe passam pela cabeça.
Por isso é que podemos afirmar que pese embora a opinião dos socialistas na verdade a coragem de Sócrates é aparente e esconde sobretudo uma falta de capacidade para fazer o país evoluir. Talvez se Sócrates fosse menos Sócrates e mais Zapatero as coisas fossem diferentes. Mas o PSOE é outro tipo de socialismo. Ou melhor é mais socialismo democrático e menos liberalismo puro e duro disfarçado com umas gotas de assistencialismo.


 

Pedra do Homem, 2007



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