O texto de opinião de Rui Tavares, no Público de ontem, sobre a magna questão dos despedimentos. Com humor pondo a ridículo parte do discurso liberal dominante sobre as consequências inevitáveis -dizem eles - da globalização.
Cito: "O discurso dominante usa justificações tão iguais para coisas tão opostas que se torna imprestável. O "preço que Portugal paga à globalização" de Basílio Horta é como o preço que os cônjugues pagavam ao casamento na época vitoriana: era para toda a vida e o marido deveria ser agarrado e mantido estoicamente pela esposa. Se no casamento é comum os cõnjugues atirarem as culpas, aqui o culpado já está encontrado: Portugal não soube agarrar e manter a GM. Portugal é pouco atractivo, é pouco competitivo, é pouco prendado. Como qualquer abandonado, Portugal mergulha em mais uma das suas fossas de autocrítica.
Todos se perguntam, pois, qual é o problema de Portugal. Ninguém se pergunta qual é o problema da GM. O nosso ministro da Economia diz que a GM "está a viver um momento muito dificil". tem que reduzir os custos em 30 por cento - porque foi mal gerida - mas por um daqueles mistérios da fé n unca se ouviu uma GM em dificuldade dizer"vamos baixar os salários dos nossos administradores e executivos", seria ridículo. (...) Os donos da GM são os seus accionistas: Mas eles não são jurídicamente responsáveis pela conduta da GM: verão apenas baixar as suas acções, isto se as quiserem manter. Acimade tudo, o fio que os une aos seus trabalhadores da Azambuja é ténue, remoto e, para falar a verdade, interrompido por uma ficção jurídica. Que, como tantas coisas de que o discurso liberal depende, não tem nada a ver com mercado livre. É puramente artificial: uma pura concessão do Estado."


 

Pedra do Homem, 2007



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