O texto que a MJB aqui publicou merece alguma reflexão. A partir de uma caracterização da alma própria dos edifícios e da sua contribuição para a construção da cidade enquanto entidade subjectiva, a Maria José conclui que a demolição das casas, como o abate dos barcos, é uma "solução derradeira" e que quem se opõe o faz para além da política em nome de algo maior do que a política.
Não entendo a necessidade de validar uma qualquer manifestação de cidadania - é disso que se trata - que se traduza, por exemplo na organização de um protesto contra a demolição do Mercado de Sines, através da evocação do apoliticismo da iniciativa. Nem sei o que isso é.
Sendo a cidade a polis e sendo a política a arte de organizar a vida na polis, que sentido faz reivindicar para a cidadania um carácter apolítico pretensamente purificador da intervenção cidadã? Do meu ponto de vista nenhum.
A cidadania exerce-se no campo da política seja pela intervenção associativa cultural, desportiva, ambiental ou outra, seja pela actividade política nos partidos existentes e nas organizações não governamentais ou nos simples movimentos de cidadãos.
Quem detêm o poder político, sobretudo a nível local, - numa herança de Salazar mas que tem sido muito "estimada" pela democracia - normalmente diaboliza a intervenção cidadã pela sua politização. Se fulano ou beltrano faz isto ou aquilo estamos perante "pura política". Pois claro que sim. Estamos perante o inalienável direito dos cidadãos se manifestarem contra, ou a favor, os destinos da polis. Criticando, discordando, organizando a discordância, militando politicamente manifestando-se das mais variadas formas.
O que está em causa passa sempre pela política. Passa pela decisão política de demolir e pela decisão política de cada um de nós de resistirmos e de nos opormos à demolição. 
Passa pela forma como cada um de nós - os que querem demolir e os que nos opomos - se posicionam relativamente à polis, ao seu passado ao seu presente e sobretudo ao seu futuro.
A nossa pequenez colectiva, a nossa pobreza, o nosso subdesenvolvimento, passa muito pela forma como nos demitimos dessa intervenção cidadã. Pela forma como nos demitimos da política e da polis.
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