A forma como nós vivemos, sobretudo nas áreas metropolitanas, é insuportavelmente dispendiosa em tempo de transporte. O congestionamento provocado pelo entupimento dos acessos a Lisboa ou ao Porto consome milhares de horas por dia e contribui de forma decisiva para a dependência energética portuguesa e para a factura cada vez mais pesada com a importação de produtos petrolíferos. São um factor de empobrecimento geral.
Ao longo de anos a engenharia do sector dos transportes tentou, e receitou, diferentes soluções. Todas falharam. Agora alguns especialistas aparecem com mais um conjunto de ideias miraculosas centradas na penalização da utilização do automóvel. Uma mezinha santa. É claro que é mais fácil penalizar aqueles que necessitam de se deslocar para a cidade de Lisboa para aí trabalharem do que tomar outro tipo de medidas.
Por exemplo alterar as políticas urbanas em particular a forma como se processa o desenvolvimento urbano e impedir - está nas suas mãos - que ano após ano os interesses do sector da grande promoção imobiliária expulse para as periferias milhares e milhares de cidadãos, sobretudo jovens. Gente que - não há bela sem senão - todos os dias é necessária para trabalhar na cidade. E que se desloca de carro porque é assim que ... o Estado quer.
Porque o Estado necessita dos impostos que a GALP paga e necessita que a GALP venda cada vez mais combustíveis. Para ter mais lucros.
Porque o Estado ao longo de décadas pretendeu que os cidadãos se deslocassem em transportes públicos, imobilizados nas bichas como os outros, sem ter coragem política para afectar à sua circulação sítios próprios e sem disponibilizar uma oferta capaz para a procuar crescente. Um dos enormes sintomas de prosperidade que diferentes Governos gostavam de apresentar - PS e PSD - era ou não a venda de carros ligeiros e de telemóveis?
Sem alterar o modo de vida nas nossas cidades. Sem colocar um ponto final na lógica do zonamento - separação entre local de trabalho de residência e de lazer - com o seu número infernal de deslocações, agravado pelo zonamento sócio-económico ditado pelos poderes que realmente ditam as regras da urbe, nenhuma medida será eficaz.
Mas, penalizar o uso do automóvel neste contexto, é sobretudo penalizar as vítimas deste processo elevando-as à categoria de culpados. Uma banalidade, hoje em dia.


 

Pedra do Homem, 2007



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