A terceira parte confirmou a sensação de que a montanha pariu um rato. A coisa ainda aqueceu com o tema da corrupção, mas aqueceu pouco. A questão resvalou para o episódio da tentativa de suborno a Sá Fernandes mas o essencial da eventual corrupção associada às operações de densificação ou de mudanças de uso ficaram à porta do debate. Mesmo com o episódio recente de Marvila a coisa não foi por aí. Apesar de Carrilho ter brilhado - final da segunda parte - quando acusou a vereadora do urbanismo de ser a vereadora dos loteamentos, uma forma de desenvolvimento urbano mais susceptível - devido à ausência de Plano - ao tráfico de influências, além de geradora, ou potenciadora, de um conjunto alargado de disfuncionalidades, ou malformações urbanas, que não vou agora aqui referir.
Depois passou-se ao caso da Baixa-Chiado que não esclareceu um único português sobre qualquer coisa relacionada com este dito "projecto emblemático", mas permitiu evidenciar duas coisas: 1º) A vereadora MJNP tem aqui o seu ex-libris cuja importância salienta, a cada passo, com um abundante tempero de lugares comuns, do estilo "cidade moderna", "cidade do século XXI" "forma de fazer cidade do próximo século", mais ou menos arrasadores; 2º) O conhecimento que a restante vereação tem do Plano é, a julgar pelas intervenções, fracote. Se Carrilho pretendeu desvalorizar a coisa pelo não comprometimento do Governo - bizarra a discussão sobre o estatuto do representante(?) do Governo junto do comisssariado - assim ao modo de "eu sei que o Governo não vai apoiar", os restantes optaram por desvalorizar cada um à sua maneira: Sá Fernandes com a vulgaridade do copypaste e Ruben de Carvalho revelando que o Orçamento para 2007 ignora o Plano.
Extraordinariamente nenhum dos vereadores da oposição - menos MJNP por razões óbvias - mostrou querer discutir as questões de fundo: o modelo institucional e o modelo de financiamento. Ora é ai que a coisa pia mais fino. É aí que, por exemplo no modelo institucional, se pretende fazer um by pass aos órgãos eleitos - bem avisada parece estar Paula Teixeira Pinto, a presidente da AM - conferindo a uma empresa, tipo EXPO, a gestão da coisa. Quando se fala de bypassar os eleitos fala-se de ignorar pura e simplesmente os cidadãos. Esses já votaram, não foi?
E quanto ao modelo de financiamento, agarrado ao modelo institucional, parece desenhado para a captação pelos privados da totalidade das mais-valias geradas pelo Plano (e a Cidade a ficar contentinha por finalmente ter sido possível recuperar a Baixa-Chiado). Mas esta questão é muito pesada e não valia a pena estar a discutir estas coisas no prime-time. Seria muito aborrecido. Não há share que aguente.
A questão da política de habitação (não!!!) consagrada no Plano - deve estar nalgum sítio porque no Plano o que se escreve não é coisa nenhuma - e o tipo de população alvo a realojar e com que condições de espacialização foi outro assunto de que ninguém quis falar.
A intervenção de Manuel Salgado- ex-futuro próximo vice-Presidente de Carrilho e projectista com intensa actividade na Cidade - alma mater do Plano - do copy paste na grosseira franqueza de Sá Fernandes - não ajudou ao esclarecimento. Mas recordou-nos, outra vez, a expresão citada pelo dirigente do Fórum Cidadania deLisboa, Paulo Ferrero, "sempre que ouço falar em modelo de gestão da Expo fico arrepiado”.
A Cidade que se cuide.
PS - quando refiro anteriormente que ninguém quis discutir as questões de fundo falo nos termos deste debate com o Plano no estado em que se encontra. Saliento que discordo completamente do Plano - que não é Plano nenhum, desde logo - que me parece francamente mau, deste tipo de estruturas tipo "Comissariado" , cujas ligações ao mundo dos negócios envolvidos na área do Plano deviam ser conhecidas e publicamente divulgadas, bem como de uma forma de fazer cidade que pretende passar à margem dos poderes locais eleitos e de formas mais alargadas de participação cidadã. Aspectos mais técnicos não são para aqui chamados, neste momento.
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