"Não há Quadros no Alentejo" é uma frase recorrente no discurso político local e regional. Com esta frase os dirigentes políticos locais e regionais pretendem justificar o escasso nível de empreendedorismo mas também o facto, muitas vezes chocante, de o pessoal político e o pessoal técnico, sobretudo os avençados e os prestadores de serviços, serem em grande parte oriundos doutras zonas do País. Na realidade estamos perante uma pura vigarice. Não certamente a última mas uma das mais devastadoras. Os dirigentes locais, sobretudo os autarcas, fazem da repressão dos actores locais uma das condições para a sua sobrevivência e longevidade política enquanto, num notável exercício de hipocrisia, lamentam a falta de massa crítica. Preferem, por isso, contratar serviços ao exterior de preferência à Universidade, ou aos seus arredores, o que além do mais arrasta uma aura de competência que confere uma espécie de validação técnico-cientifica suplementar às políticas seguidas ou à falta delas. As oposições ficam sideradas com a sapiência do lente que debita na sessão pública um conjunto assinalável de vulgaridades incontestáveis que são, afinal, o verso e o reverso das políticas do autarca contratante. Um catedrático com um cheirinho de esquerda, afastado das querelas políticas do dia a dia, blasé quanto baste é a sétima maravilha do mundo. Paga-se caro mas têm-se o proveito. Um investimento sustentado.
Tudo muda de figura quando o jovem quadro é um jovem camarada. Um camarada que já deu provas noutro concelho mas que, por puro azar, a vida tem tantos imprevistos..., não lhe correram bem as coisas, tinha ganho má fama, um rapaz com tantas qualidades. Há que reciclá-lo, dar-lhe uma nova oportunidade. Não existe melhor solução do que mandá-lo para o Alentejo. Uma pura acção de repovoamento e logo com Quadros, um recurso tão escasso. Passados uns, poucos, anos o nosso jovem já estará eleito, num lugar político onde poderá expressar melhor as suas imensas qualidades, algumas vezes incompreendidas. Mas, mesmo aqui, existem regras que importa respeitar. Um jovem, mesmo muito bem sucedido, não deve atrever-se a questionar as competências e os poderes do velho cacique. Se o fizer pode-lhe acontecer que, quando acordar, já as competências lhe tenham sido retiradas e já outro Quadro tenha aterrado no Alentejo para desempenhar as funções que lhe tinham sido confiadas e que acabam de lhe ser retiradas. Muitas vezes depois de um curto voo de um aeródromo que, entretanto, mudou o controlo da navegação aérea e da emissão de licenças aos paraquedistas.
Claro que tudo isto, praticado a esmo desde o 25 de Abril, embora com muito maior empenho e desfaçatez nos últimos anos, é favorecido pelas características topográficas do Alentejo. Se a região fosse montanhosa os paraquedistas seriam bastante menos já que o número de baixas seria muito maior e o número de candidatos na razão inversa. Quem é que quer correr o risco de bater com os cornos num monte de pedras mesmo que a recompensa seja um lugar inatingível pelo simples recurso às competências próprias?


 

Pedra do Homem, 2007



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