Para todos os que fazem da Arte um roteiro de viagem, este é o fantástico Guggenheim Museum em New York. Por aqui passam milhares de pessoas diariamente, anonimamente. Por aqui, o "carisma" do edifício e das obras que nele se podem visionar é forte; as pessoas que visitam um espaço destes, sentem-se talvez cansadas umas das outras, mas vagamente confortáveis por fazerem parte de toda aquela gente tão variada que se cruza.
Nas cidades menos populosas já não é assim, vão sempre os mesmos aos espectáculos, exposições e afins. Por vezes torna-se quase desconfortável, porque sendo um grupo mais ou menos reduzido a coisa fica com ar de ritual religioso.

Numa recente entrevista, Vasco Pulido Valente dizia algo com o que, em parte, concordo: "em Portugal encara-se a cultura como uma religião, principalmente a esquerda, encara a cultura como uma religião".
Em Portugal não é somente a cultura que se encara como uma religião, mas também o futebol, e alguns modos de vida estreitamente ritualizados. Mas não é só a esquerda que o faz. Em todas as crenças políticas há os que o fazem com regularidade e necessidade.
A cultura tornou-se para muitos uma coisa quase mítica que funciona como um preenchedor de vazios diários. Ou seja, vai-se ao teatro, ao cinema, vai-se ver uma exposição com uma postura de procissão, de quem vai encontrar coisa de ai Jesus.
Há os que não sabem de nada mas desgostam de tudo: não há obra de arte que os mereça. Outros, dizem sempre que se gosta imenso, porque fica mal dizer que não se gosta do artista X (que é tão conhecido) ou da peça Y que tem uma linha não sei quê e uma mensagem abstracta não sei de onde... E lá se está, em sussurro, a olhar para um quadro que não se entende nada com uma sensação mista de pequenez e satisfação. Ou seja, não se entendeu patavina, mas esteve-se no lugar onde as pessoas que contam também estiveram, porque, dizem, as coisas culturais são coisas muito importantes.
No entanto, a Arte e o Conhecimento é que são coisas importantes, não a cultura por si só. A cultura é só um resultado. Um país que se preocupa mais com a cultura do que com a Arte e o Conhecimento é concerteza inculto. E parece-me que em Portugal quer-se "pertencer ao iluminado grupo dos cultos" sem se ter pensado sobre nada, sem se ter lido um livro, sem se conhecer, sobretudo, a terra, o mar e as gentes.


 

Pedra do Homem, 2007



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