Um amigo meu comentou o silêncio a que a imprensa votou a conferência internacional realizada pelo BE, e pelo grupo do Parlamento Europeu ao qual pertence, nestes termos: " tratava-se de uma conferência partidária, de um partido minoritário, na qual todos dizem mais ou menos a mesma coisa.Uma espécie de missa. Julgo que não é o tipo de notícias que as pessoas gostem de ler ou tenham interesse em ler".
Julgo que este argumento não colhe. Por várias razões mas centro-me apenas na questão da missa. Os participantes, na sua esmagadora maioria, nada tinham a ver com o Bloco de Esquerda: Léon Krier, por exemplo, foi apresentado, por Miguel Portas, como associado ao urbanismo conservador e é sobretudo conhecido por ter sido o urbanista a quem o Principe de Gales atribuiu o projecto da nova cidade de Poundbury e por ser o ideólogo do movimento do new urbanism.
A classificação de Miguel Portas é pouco rigorosa e terá servido para simplificar a introdução do urbanista. Krier é sobretudo um revolucionário. No sentido em que dfende uma mudança de paradigma. Alguém que pelo discurso e pela postura - a denuncia que faz dos interesses e das promiscuidades entre público e privado - está claramente à frente da generalidade dos seus pares. Pode-se depois discutir se concordamos com todas as suas ideias. Neste painel foi evidente o desacordo entre Krier e Nuno Portas com a discussão entre os dois a azedar um pouco a partir da posição de cada um sobre a contribuição do movimento moderno para o actual (mau) estado de coisas.
É de Krier uma frase que acho que caracteriza bem as nossas cidades: "[o urbanismo do movimento moderno] o zonamento transformou a vida moderna em algo de extremamente complexo e dispendioso em tempo de transporte. O resultado mais notável do zooning funcional é garantir o consumo máximo de unidades de tempo, de energia e de território na execução das funções quotidianas da sociedade no seu conjunto"
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