Uma das classes filhas da democracia é a dos gestores públicos. Lugares de nomeação política, mesmo que não sejam muito bem pagos, trazem grandes dividendos por uma ou outra forma. Esta que aqui é relatada é apenas a mais lucrativa e aquela que por iso mesmo abrange apenas um grupo restrito, muito ... qualificado. São os que saem de um lado, com uma generosa indemnização no bolso, e entram de seguida num outro lugar no qual continuam a ser principescamente bem pagos. O sistema - depois do fulano ter entrado nele - reproduz-se até à aposentação definitiva.
Um outro grupo de sortudos foi aquele que beneficiou da tonteria do downsizing que nos tempos de Cavaco aterrou com estrondo nas empresas públicas e que permitiu reformar quadros com menos de 50 anos que, abotoados com as indemnizações e as reformas pagas religiosamente todos os meses, foram abrir uma chafarica ao pé da porta da empresa que deixaram e passaram a ser consecutivamente contratados com recurso a sucessivos ajustes directos para a execução de tarefas que exigiam as suas elevadas capacidades, entretanto reformadas. Claro que as empresas existentes sofrem com esta forma encapotada de corrupção. Corrupção porque se sonega ao mercado uma significativa parte da encomenda que aí, pelos mecanismos legais, devia ser adjudicada. Corrupção porque entre quem contrata e o contratado se estabelecem cumplicidades que vão da concelhia partidária, aos Bombeiros ou à Mesiricórdia da santa terrinha e às férias que passam juntos à muitos anos com as respectivas famílias (Deus seja louvado!!!!) ...
Claro que a nenhum gestor público no seu perfeito juízo lhe passa pela cabeça candidatar-se ao que quer que seja. A menos que esse lugar seja uma candidatura de sacríficio, tipo um lugarzito na Assembleia Municipal ou a liderança de uma candidatura autárquica antecipadamente derrotada e por isso susceptível de fundamentar a cobrança de um melhor lugar na hierarquia dos gestores a nomear.


 

Pedra do Homem, 2007



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