Cavaco Silva preocupado com baixo nível de instrução dos portugueses
Uma das coisas em que os dois partidos do arco do poder coincidiram ao longo de décadas foi na demonstração práctica de que a qualificação dos portugueses era absolutamente irrelevante para questões como o sucesso profissional ou a acensão a lugares de pretenso elevado prestigio na Administração Pública ou nas empresas nas quais o Estado ainda manda alguma coisa.
Os destinatários tomaram boa nota da mensagem. Entre uma carreira baseada no estudo e no trabalho ou uma carreira dedicada à juventude partidária abrilhantada por um cursozito numa privada numa daquelas áreas mais fáceis que dão para todas as nomeações políticas, não hesitaram na escolha a fazer.
É neste contexto que se deve entender a meta anunciada por Sócrates de qualificar um milhão de portugueses com o 12º ano nos próximos anos. Como dizia Medina Carreira quem pede um milhão pode pedir dois. À partida a meta pressupõe um objectivo político quantificado. Se necessário for elimam-se as dificuldades para o conseguir. Por exemplo diminuindo a exigência, um método exaustivamente aplicado. Afinal o que está em causa é a "qualificação dos portugueses" um desígnio nacional. Quem não gosta de um Governo que qualifica os portugueses?
Cavaco Silva, que enquanto primeiro-ministro nunca mostrou talento para combater o monstro em que se tornou o IEFP, devia começar por esclarecer do que é que está a falar quando fala de instrução um pouco à imagem do título do livro de Raymond Carver.
Adenda: Devo acrescentar que não acho desculpável o que se passa cada vez mais, ao nível municipal, com a promoção dos camaradas, amigos e - sobretudo - familiares para os cargos mais elevados da Administração Autárquica. Estou convicto que aquilo que se passa ao nível do poder local é, em muitos casos bem pior do que ao nível central e que a esquerda, sobre esta matéria, faz (tem feito) coisas bem piores do que o centro-direita.
O expoente máximo desta canalhada é o recente "concurso por medida" em que só o familiar do autarca é admitido sendo todos os outros excluídos.
A sensação de impunidade que se conquista após dois mandatos no poder local - potenciada à enésima potência se o "partido" acumular maiorias desde o 25 de Abril - é tão grande quanto é aguda a consciência de que "nunca se descobre nada" e de que a malta, num exercício de autocensura e de demissão do exercício da cidadania, prefere comer e calar.
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