O terceiro episódio da série documental da autoria de António Barreto, com realização de Joana Pontes, abordou hoje o tema da vida nas cidades. A forma como o processo de urbanização se acentuou ao longo das últimas décadas e as consequências dessa evolução para as famílias.
A ideia que este episódio transmite é de uma suave melancolia quase a roçar a depressão. Talvez pelo tom de voz de António Barreto, talvez pela suavidade da realização da Joana Pontes, talvez pela música, mas sobretudo pela depressão intrinseca do tema.
A vida dos portugueses, da maioria dos portugueses, é uma depressão, sobretudo pela forma como todos nós nos relacionamos com o território que habitamos e pela forma como se organiza a vida nas nossas cidades. Durante décadas construímos uma maneira de viver nas cidades que é insuportavelmente dispendiosa em tempo de transporte, como escreveu Léon Krier.
O tempo de transporte pode aqui ser trocado por outras coisas: o tempo que não dispensamos aos filhos e à família; o tempo que não dispensamos ao estudo; o tempo que não dispensamos ao lazer; o tempo que não dispensamos ao associativismo; o tempo que não dispensamos à cidadania; o dinheiro que consumimos para consumir esse tempo que dessa forma, cara, deixa de ser o nosso tempo.
Colocar a explicação para tudo isto na hipotética descordenação entre Planos e Construção é que me parece uma explicação conveniente mas lamentavelemte insuficiente. Francamente insuficiente.
Talvez o Retrato não possa ir mais longe. Mas como falaram das cidades apetece-me escrever que há boas soluções para os males que o episódio de hoje tão bem diagnostica. E as cidades, cuja morte foi aliás várias vezes anunciada no último século, são como os diamantes: eternas.
Etiquetas: cidades