A declaração de Carmona teve momentos penosos. Como quando resolveu enunciar as realizações do "seu" mandato. Tratava-se, aparentemente, da última oportunidade para Carmona falar ao país na condição de Presidente da Câmara de Lisboa e ele aproveitava para fazer o seu balanço. Mas não, Carmona anunciou no fim que resolvera ficar e que a ele ninguém o atirava pela borda fora. Penoso e quase patético. Carmona tem andado pela política a um nível muito elevado - vice-presidente da autarquia de Lisboa, Ministro das Obras Públicas e presidente da câmara da capital - sempre pela mão do PSD. Sendo independente está ligado ao PSD e ao seu líder que o escolheu para este lugar contra um ex-líder e ex-primeiro-ministro. Se neste processo se pode apontar o dedo a Mendes é na demora em tomar esta decisão. Desde que a crise estalou Carmona nunca foi capaz de dar um golpe de asa capaz de mostrar aos lisboetas que continuava vivo ou de retribuir politicamente o apoio que Mendes lhe dispensava. Antes pelo contrário como o demonstraram a cena no viaduto e a saída a meio da tempestade para uma coisa de motas algures.
Carmona diz que fica mas sabemos todos que não fica. O ciclo de Carmona na autarquia de Lisboa acabou.
Há no entanto duas coisas que importa salientar: Carmona não foi capaz de negar o que Mendes dissera sobre o compromisso entre ambos, anterior à divulgação da posição do líder do PSD. Devemos concluir que Mendes falou verdade; Carmona não foi capaz de especificar a que falta de apoios se referia quando se queixou do silêncio ensurdecedor do PSD. Mas todos sabemos que a Presidente da Assembleia Municipal não lhe terá facilitado a vida. Carmona retribui-lhe agora defendendo a realização de eleições simultaneamente para a Câmara e para a Assembleia Municipal.
O poder local, tal como a posição de Carmona em Lisboa, está num processo de degradação inexorável. A arquitectura do sistema não funciona. Eleições em Lisboa é uma oportunidade de ouro para discutir o essencial.
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