As citações de José Saramago aqui reproduzidas pela Maria José - a partir da notícia do Público - levam-me a uma conclusão exactamente oposta à dela. Julgo que nalguns casos a idade recomendaria alguma contenção e mesmo um sábio silêncio. Saramago é um exemplo disso mesmo. A partir de uma reflexão marcada por um conjunto assinalável de banalidades e de lugares comuns, o escritor conclui que não conhece nada mais estupido do que a esquerda. Eis aqui uma tirada susceptível de recolher um alargado conjunto de aplausos.
De que esquerda falará Saramago? Aliás o que será para Saramago a esquerda? Falará ele da esquerda que conhece, e na qual milita desde sempre, a esquerda comunista? Ou falará das esquerdas que ele sempre recusou aceitar enquanto tais, os partidos socialistas e sociais-democratas com uma natureza semelhante à do PS? Falará da esquerda que participa na luta por uma nova ordem, que acredita na globalização mas que se opõe a esta globalização dominada pelos interesses de uma elite financeira global, uma esquerda que recusa e recusou as experiências do socialismo real "à la soviética" que tanto encantaram Saramago?
Julgo sinceramente que Saramago não sabe do que fala. Fala porque necessita de se ouvir. Uma coisa que acontece muito a pessoas de todas as idades. A sabedoria não se atinge por antiguidade.
Quanto às profecias sobre o regresso do fascismo e do fim da civilização confesso que neste capítulo prefiro as do Bandarra.


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats