A excelente análise de Jorge Almeida Fernandes sobr o conflito entre o Hamas e a Fatah", na edição de ontem do Público. "A nova política do Governo israelita e da Administração Bush consiste em "separar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia" em "duas entidades", ou seja, asfixiar o Hamas e fortalecer a Autoridade Palestiniana (AP) de Mahmoud Abbas, para negociar com "os palestinianos moderados". Esta visão aproxima-se da reacção imediata da Fatah: isolar Gaza, impedir o contágio islamista na Cisjordânia e colocar o Hamas perante a tarefa de governar e manter a ordem num território sem recursos.
Esta visão levanta algumas questões. O primeiro ponto é a própria "separação". O segundo é o modo de tratar o fenómeno Hamas: não havendo nenhuma "boa política", qual a que menor risco implica?
Gaza e Cisjordânia são realidades históricas, sociais e culturais distintas. O golpe do Hamas e a imediata nomeação dum novo governo por Abbas acelera a ruptura. Os argumentos contra a "separação" são de duas ordens. Do ponto de vista económico, Gaza não tem viabilidade. A ruptura territorial condena-a à catástrofe, que nenhuma ajuda humanitária evitará, e criará um enclave islamista, candidato a "santuário terrorista".Será ainda possível anular a ruptura e restabelecer as relações entre o Hamas e a Fatah? O Hamas - que "agora tem algo a perder" - tenta amenizar as relações. (...) Mas ninguém vê o Hamas disposto a abrir mão da sua conquista.
Contra o isolamento, argumenta o MNE espanhol, Miguel Moratinos: "É preciso continuar a criar os fundamentos de um Estado palestiniano e, ao mesmo tempo, evitar que o Hamas possa consolidar a sua hegemonia em Gaza por métodos militares e violentos."
Nos próprios EUA muitos analistas falam no risco de a Administração Bush estar a fazer mais um "cálculo perigoso", tão perverso como a política de "asfixiar" o Hamas após a sua vitória nas eleições, no pressuposto de que fortaleceria Abbas. "Quase todas as decisões que os EUA tomaram para interferir na política palestiniana produziram um efeito de bumerangue", anota o antigo negociador Robert Malley, do International Crisis Group.
Os israelitas dividem-se. No Ha"aretz, o analista Akiva Eldar sublinha que a política de Sharon acaba de dar os últimos frutos, a ruptura entre Gaza e Cisjordânia, visando dividir esta última em muitos "bantustões". (...)".
Contestando a nova política israelita, Ronen Bergman, correspondente do Yediot Ahronot para os serviços secretos, adverte contra a ilusão de que "é bom para nós que os árabes se estejam a matar uns aos outros". O caos criará "regiões ingovernáveis" como o Afeganistão ou a Somália. Propõe a rápida intervenção de países árabes, como o Egipto e a Arábia Saudita, para forçar a negociação de um cessar-fogo entre o Hamas e a Fatah. Sugere uma troca de prisioneiros para obter a libertação do soldado Gilad Shalit, raptado em 2006. Pede uma imediata ajuda económica a Gaza. Porquê? A prioridade é a segurança, evitar que o Hamas se torne num "Hezbollah sunita", filial dos Guardas da Revolução iranianos, questão vital para a segurança de Israel.(...)."


 

Pedra do Homem, 2007



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