Um primeiro comentário muito breve: nível muito fraco da generalidade dos candidatos. A maior desilusão foi António Costa. Porta-se como peixe fora de água. Falta-lhe a paixão de quem tem ideias próprias e uma vontade inabalável de as concretizar. SDendo um político de reconhecidos e elevados méritos o que se pode concluir é que avançou para esta missão sem que isso tivesse sido determinado pela paixão que motiva os grandes líderes caoazes de marcar a vida das grandes cidades.
Negrão foi fraco e Carmona esteve irreconhecível. Sente-se que o engenheiro se coloca a jeito para ser ele a assumir a defesa dos erros do passado recente e que convive mal com a presença de Negrão na disputa.
Olhando apenas para os dois candidatos que podem conquistar a Câmara - embora não tenha dúvidas que o próximo Presidente será António Costa - a coisa não vai melhorar nos próximos dois anos. Lisboa merece mais e melhor.
Telmo Correia esteve péssimo mas acabou por ser dele a frase do debate. Acusou Costa de ter saído do Governo mas de o Governo ainda não ter saído dele. Uma frase assassina legitimada pelo sorriso de "apanhado" de Costa. Mas Telmo vai protagonizar o desparecimento do PP da autarquia lisboeta.
Roseta teve uma proposta mediatizável mas que não faz qualquer sentido. Falo da ideia de que os problemas do urbanismo sejam discutidos por todos ao que parece em pé de igualdade. Seria melhor e mais saudável que cada um apresentasse durante a campanha as suas propostas concretas nesta matéria por forma a que os cidadãos pudessem escolher com critério. Não se percebe porque razão irão os eleitores escolher Roseta para depois, caso ganhasse a Câmara, decidir as questões urbanísticas com aqueles que defendem príncipios e estratégias opostas às suas. Mas esta opção de Roseta é susceptível de lhe render votos.
Sá Fernandes que desce muito aos pormenores - uma qualidade para quem é acusado de só destruir - e que mostra conhecimento dos aspectos prácticos falou de uma das questões mais importantes da cidade: a necessidade de inverter a perda de população. A sua proposta de ganhar 50 mil habitante nos próximos 6 anos representaria uma alteração radical da actual situação. Lisboa entre 1981 e 2001 perdeu cerca de 13600 habitantes por ano. O problema é saber-se como se pode inverter uma situação como esta. Ora isso mexe com a questão urbanística, com a questão das políticas de habitação, com o conteudo dos planos urbanísticos, com a forma como a autarquia (não)gere o processo de desenvolvimento urbano, com o destino a dar ao património devoluto do Estado. Mexe com a política fundiária e a gestão das mais-valias urbanísticas questões relativamente às quais a nossa legislação é omissa. Culpa da classe política que temos tido que aliás está bem representada no painel de candidatos. Roseta não se pode colocar de fora nesta matéria. No actual quadro legal urbanístico não há uma solução para Lisboa. Pode haver maior competência ou maior incompetência dos candidatos mas não existem soluções neste quadro. O Simplis de Costa, tal como o Simplex do Governo, não resolve nenhum problema de fundo antes pelo contrário criará inevitavelmente novos e mais graves. A desregulamentação urbanística no quadro das omissões que caracterizam a nossa legislação e com o desenvolvimento urbano a ser dominado pelos privados, como acontece em Portugal, agudiza os problermas existentes. Basta analisar o que se passou na década de oitenta e noventa em paises como a França. Mas isso justificava, numa cidade como Lisboa, um debate apenas dedicado a esta matéria. Um longo e proveitoso debate se os protagonistas estivessem à altura da cidade e dos problemas dos seus habitantes.


 

Pedra do Homem, 2007



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