Os pianos na lua são tão compridos
que os pianistas têm de ter quinze fortes dedos em cada mão.

Os violinos são tão violentos
que os afundam em poços muito fundos e mesmo assim ainda se ouve alguma coisa.

Os fagotes na lua não sopram notas
mas lânguidos e tristes lamentos que se perdem num eco de ondeantes gargantas.

As harmónicas na lua, vejam só a piada,
tocam uma melodias que causam roséola, mas com manchas maiores ainda.

De uma trompete na lua nunca ninguém se cansa,
porque manda o músico pelos ares como um balão e ele evapora-se.

Os contrabaixos na lua são um risco de verdade,
mal soa a primeira nota aparecem uns enormes dedos negros e levam tudo o que há.

Na lua tocar ferrinhos é uma coisa arriscada,
basta um ping - e salta a cabeça ao tocador, fica tipo garrafa de uísque irlandês partida ao meio.

Outro cuidado a ter é com a flauta -
porque esteja onde estiver o vosso pai ver-se-á transformado numa velha e lamentável bota.

Vendo bem, o melhor são mesmo os tambores.
Se algum prejuízo causam é lá longe, muito longe e não nos chegam notícias.

Ted Hughes, in O Fazer da Poesia


 

Pedra do Homem, 2007



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