Escreve-se que Marques Mendes terá errado por ter "precipitado a queda de Carmona". Julgo que o problema não foi esse. O problema de Mendes foi de duas outras ordens: enganou-se no timing e nos protagonistas. Devia ter imposto a dissolução da Câmara muito mais cedo, antes da fase do "todos os dias aparece um novo arguido", e devia ter reforçado a sua confiança em Carmona Rodrigues, dando aos lisboetas a possibilidade de sufragarem de novo a confiança no engenheiro. Está à vista que teria ganho essa aposta e hoje o PSD estaria a braços com um resultado da ordem dos 30%, por baixo. Esta realidade parecia-me evidente em Fevereiro, mas o líder do PSD não mostrou, nessa altura, capacidade para fazer uma leitura política correcta da situação. Da mesma forma que não foi capaz de impor à Presidente da Assembleia Municipal a dissolução do orgão e a sua demissão, ela que tanta força fez para desalojar Carmona, a única atitude decente para quem se quer colocar do lado da ética na política. As pessoas não gostam destas trapalhadas. E pela ausência ou pelo voto penalizam quem não dá mostras de ter a dimensão política que uma liderança exige.


 

Pedra do Homem, 2007



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