Com a aprovação do novo regime de financiamento bancário dos cursos superiores a famélica actividade da Acção Social Escolar pode ser extinta. Os alunos se quiserem estudar, e as famílias não puderem suportar os encargos daí resulantes, vão "ao Totta". Sem garantias e sem hipotecas, proclama orgulhoso, e socialista, o primeiro-ministro. O Estado garante os riscos aos bancos pelo que o juro é baixito e a Banca abre aqui um novo e inesgotável campo de negócios, agora que a teta da habitação mostra sinais de estar extenuada.
Os portugueses que se endividam como nenhum outro povo da UE para comprar a sua casa - neste momento é um endividamento que se transmite aos filhos e aos netos - passam a fazê-lo mais cedo e a destinar parte do seu rendimento à amortização desse endividamento logo após ter passado um ano de terem concluído o seu curso. Uma juventude com formação e condicionada por um forte endividamento é uma manancial inesgotável de mão-de-obra barata e amorfa para um patronato àvido pela maior acumulação de capital possível.
Somada esta aldrabice com o horrível acordo de Bolonha - olhem para as propinas dos Mestrados - o ensino superior será no futuro uma coisa para os filhos de alguns e uma utopia inalcansável para a generalidade dos outros. O Estado lava daí as suas mãos. Com o detergente socialista de José Sócrates e de Mariano Gago.

PS - completei o secundário no ano de 1973 . Só o 25 de Abri, o apoio financeiro da acção social escolar, que permitia suprir quase todas as despesas, e o ensino superior público - em ordem de importância depois do apoio dos meus pais- permitiu que concluisse a minha licenciatura em engenharia civil. Numa lógica de "ir ao Totta" nada disso teria acontecido.


 

Pedra do Homem, 2007



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