A visita do Dalai Lama continua a ser objecto de análise e comentário. A lamentável posição do Governo, brilhantemente defendida pelo pior e mais direitista Ministro dos Negócios Estrangeiros de que há memória, e do Presidente da República, apenas foi atenuada pelo comportamento da Assembleia da República e da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros. Os nossos principios estão sempre ao dispor os nossos interesses, prontos a serem calcados. Infelizmente, como esclareceu, sorridente, o próprio Dalai Lama a uma jornalista cheia de vontade de salientar a "especificidade portuguesa", é assim um pouco por todo o lado.
Angela Merkel apenas na aparência fez melhor. Limitou-se a um encontro privado no quadro de outros encontros com diferentes líderes religiosos. Não o recebeu na sua condição de chanceler. Dando esse facto de barato, acontece que o Dalai não é apenas o líder religiosos mas, sobretudo, o líder político dos tibetanos, um povo sujeito a uma ocupação bárbara por parte da China comunista e a um extermínio calculista e implacável. Um quadro único e, felizmente, estranho para todos os outros líderes religiosos com os quais a senhora irá reunir. A senhora Merkel confunde aquilo que não é confundível porque, tal como Sócrates, não quer beliscar o papão chinês ansiosa que os bons negócios ajudem à retoma económica alemã, de que depende a sua pele. Mas, convenhamos que a senhora Merkel tem outros argumentos que o nosso Sócrates não tem e que por isso teria que fazer melhor. Optou por uma saída mais equilibrista do que equilibrada, para citar a deputada Ana Gomes.


 

Pedra do Homem, 2007



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