O DN - edição de 25 de Agosto - trazia a manchete que dá título a este post. No interior a reportagem de Luísa Botinas ocupava as duas páginas centrais. Declarações do engenheiro Mário Lopes, que de forma persistente, e quase solitária, continua a pregar no deserto em defesa da redução da vulnerabilidade sísmica das novas construções, davam o enquadramento a um trabalho que abordava um tema que é absolutamente estranho às elites bem pensantes e àquilo que os média acham que deve ser objecto de discussão em cada momento. Veja-se o que [não] se disse sobre a questão aquando das comemorações dos 250 anos do sismo de 1755, esse fantasma que de vez em quando lá vem agitar a aparente inquestionável estabilidade do mundo em que vivemos.
Duas ideias fortes: 1) A qualidade anti-sísmica das construções, entre nós, depende apenas e só da "idoneidade dos promotores"; 2) prédios novos também podem estar em risco.
A primeira ideia é rigorosa e devia deixar qualquer um assustadíssimo. Um sistema de garantia baseado na "idoneidade" dos promotores é um cenário dantesco. A segunda ideia é uma evolução na constatação de uma realidade que todos teimam em ignorar: os prédios novos na sua generalidade não resistem melhor aos sismos do que os construídos nas década de setenta e oitenta. O seu desempenho estrutural fica muito aquém daquilo que o conhecimento técnico disponível permitiria. As explicações são várias , e não podem ser aqui exaustivamente escalpelizadas, desde a tal falta de idoneidade à responsabilidade dos [muitas vezes péssimos] técnicos que elaboram projectos de engenharia estrutural. Mas há um momento marcante: a data em que o Engº Ferreira do Amaral , então Ministro das Obras Públicas dum governo liderado por Cavaco Silva, liberalizou a aprovação dos projectos de estabilidade das construções bastando, a partir daí, a declaração de conformidade do técnico autor: desde então tem sido um fartar vilanagem. Um primeiro momento nefasto de uma ideia de "Simplex" no licenciamento. E há cada vez mais técnicos com capacidade para assinar projectos, embora cada vez mais incapazes de projectar uma construção elementar de forma a que ela resista à acção dos sismos. Temos 314 cursos de engenharia, não é?
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