É impressão minha ou o discurso do Presidente da República no PE passou, no essencial, despercebido. Com excepção da eurodeputada Ana Gomes não se encontram, na blogosfera, referências ao discurso do Presidente de República do país que preside à UE. Trata-se de um silêncio injustificado tano mais quando estamos perante um excelente discurso capaz de a apartir da reflexão sobre os desafios comuns e as dificuldades actuais reflectir sobre o grau de cumprimento das expectativas da integração económica e social. O diagnóstico de Cavaco Silva foi claro - quantos discordarão dele? - e não teve dúvidas em recorrerao noso exemplo para evidenciar como o príncipio da coesão ainda espera por melhores dias. Cito ( mas o discurso é muito bom e o melhor é dispender uns minutos a lê-lo): "(...)É conhecida a tripla vertente do desenvolvimento sustentável: social, económico, ambiental. Esse é um objectivo central da integração europeia sucessivamente reafirmado nas mais diversas ocasiões, incluindo na Estratégia de Lisboa. Nesta oportunidade, gostaria de me concentrar na vertente social e, mais em particular, no tema da pobreza e da exclusão social. Ao princípio da solidariedade acresce uma concepção ética e moral do progresso sem a qual os valores fundadores da ideia europeia definham: a incessante busca da paz, a afirmação da liberdade e dos direitos humanos, o espírito de comunidade, o imperativo de equidade e de justiça social, a dignificação do trabalho e a procura de uma responsabilidade cívica mais alargada e mais libertadora. A declaração inequívoca da luta contra a pobreza e a exclusão social como um objectivo europeu responsabiliza-nos a todos face à necessidade de encontrar novas soluções para problemas cada vez mais complexos e persistentes. A Agenda Social, combinada com os objectivos da Estratégia de Lisboa, configura já esse desafio ambicioso e difícil que urge enfrentar. (...). Enquanto Presidente da República de Portugal tenho destacado o tema da inclusão social como uma prioridade na minha acção. Durante um ano, o primeiro do meu mandato, promovi o “Roteiro para a Inclusão”, com o objectivo de sensibilizar e mobilizar os portugueses para a urgência de inflectir os indicadores de pobreza persistente, de desigualdade de distribuição do rendimento e de exclusão que afectam ainda milhares de cidadãos.(...)"

Razão tem a deputada socialista para classificar o discurso como um discurso claramente à esquerda e como um aviso - sério e necessário, digo eu - ao actual Governo, incapaz não só de inverter a desigualdade social como incapaz de evitar o seu agravamento.


 

Pedra do Homem, 2007



View My Stats