"Faz hoje uma semana que o super-tanque "New Vision" sob bandeira francesa está pairando ao largo da nossa costa. Não gosto nada que um navio de tal tamanho ( 334 metros comprimento e 298.033 ton DW) e carregado com uma enorme quantidade de ramas de petróleo (cerca de 300 mil toneladas de Tipo 2 -Heavy Crude, de densidade superior a 0,9, uma autentica morraça, zurrapada de enxofre). De entre o que me inquieta na situação do navio, a primeira questão que pressuponho é que gravidade teve a avaria sofrida pelo navio para se deslocar tanto para sul, quando fazia a rota entre a Noruega e o Canadá. Ao sofrer a avaria não teria mais próximo abrigo a norte do Reino Unido ou da Irlanda? Ou das costas franceses sendo navio francês?
Se a avaria foi, como os media informam, uma falha na energia eléctrica aos equipamentos da proa porque não seguiu viagem até ao Canada e ai pedia auxílio, onde os há bastos e eficientes meios de salvamento?
A segunda questão é porque razão está o equipamento de manobra da proa - molinete guinchos - ao que nos relatam, sem energia? A energia primária vem da casa da máquina. Estão os cabos de alimentação cortados? Tem o navio quebras na sua estrutura de casco? Foi de facto alagado algum compartimento da proa? Como? Rotura do casco? Escotilha mal fechada ou avariada? Na proa este tipo de navios tem os geradores de energia de emergência para quando falha a da casa da máquina (incêndio, alagamento, etc. desta). Foi a emergência alagada?
A terceira inquietação é a de um navio daquela grandeza e quantidade de carga perigosa estar num mar onde a navegação é basta e constituir potencial perigo de abalroamento, tanto mais numa quadra do ano onde se "bebe" mais e dorme menos (é sabido de navios modernos e bem equipados que foram colidir com outros em pleno Atlântico, cujas consequências foram dramáticas expl: "City Of Lisbon" e "Stockolm". A maior parte dos acidentes ocorrem nos feriados, festas, etc. O ERIKA poluiu as costas de França a 24 Dez de 99. Portanto a situação é sempre a de um potencial alvo; tirem-no de lá depressa!
O navio é de casco duplo e nas colisões não perde facilmente produto mas mete mais água do que os de casco simples, e se já está alagado na proa a sua estabilidade pode ser agravada em tal situação. Pelas imagens me parece o navio já ter caimento a vante o que não é normal neste tipo e tamanho de navios, pelo contrário. o seu bom governo obriga a caimento a ré.
Hoje 22 Dezembro saiu de Sines, pela manhã, uma embarcação que levou uma equipe de peritos para avaliar a extensão dos danos e tentar um reparação de emergência.(porque não a faz a tripulação?) Se ao navio não se puder dar a autonomia para atracação - para largar os ferros o molinete não precisa de energia - deve ser aliviado ao largo (tal com se fez com o "Cercal" em Outubro de 94 numa operação de sucesso orientada pelo então responsável pelo plano Mar Limpo, ao largo de Leixões, em que este navio avariado - em piores condições, com rombo a verter - aliviou 85 mil toneladas da carga para outro navio que atracou ao costado.Tanto mais que pelas características do crude transportado me parece que o mesmo não poder ser refinado em Sines, o que obrigaria a haver (haverá?) uma capacidade livre de 300 mil ton.na tanquagem do parque para reter o produto durante o tempo da reparação final do navio. Mas não demorem muito nas resoluções: só teremos segurança das nossas águas quando o navio sair de lá. Aguardemos confiantes.Feliz Natal a todos"
Comandante Joaquim Silva