José Miguel Júdice, o advogado que é um dos sócios do Eleven, reagiu no Público da passada sexta-feira às notícias, e às opiniões, suscitadas pela revelação do valor da renda paga pelo terreno no qual está instalado o seu restaurante. No artigo, cujo título é "calúniai, calúniai", Júdice explica as condições em que chegou à condição de sócio do Eleven e a forma como terá decorrido o concurso para depois concluir que o "país encanalhou" já que "para muitos portugueses, tudo e todos recebem favores, são corruptos: se têm algum sucesso não é por mérito, jeito, trabalho ou sorte, antes isso é prova irrefutável de desonestidade."
Pela parte que me toca - escrevi aqui sobre esta questão - julgo que aquilo que está em causa é o valor ridículo da renda que é paga por uma área de terreno tão considerável numa localização tão notável da cidade. Deste facto o principal responsável é a autarquia. O argumento de que o investimento é elevado e de que o edificio no final do período de 20 anos passa a propriedade da Câmara não colhe já que a ser assim então a Câmara deveria disponibilizar terrenos para este tipo de actividades ou outras, em condições idênticas desde que o ... investimento fosse tão elevado. Será que faltariam interessados? Não me parece. Será que seria um bom negócio para a autarquia? Não me parece. Seria uma insensatez completa uma auatarquia arrendar parte significativa do seu património fundiário à razão de 500 euros cada parcela com as dimensões da do Eleven.
José Sá Fernandes, o vereador que trouxe o assunto a público, é particularmente visado por Júdice, e responde hoje num curto artigo de opinião ,no mesmo jornal, cujo título é, ironicamente : "Coitadinho do Crocodilo". Cito: "(...) o restaurante de luxo de que o dr. Júdice é sócio, construção com cerca de 2400 metros quadrados, implanatado em 355 m de terreno camarário, com uma área de estacionamento de 430 mtros quadrados, sito numa zona privilegiada, em termos urbanísticos, turísticos e panorâmicos, de Lisboa, paga à cidade uma verba aproximada de 550 euros/mês.(...) Bom!, eu só tenho a dizer que continuo a achar que é um mau negócio para a CML receber apenas 500 e poucos euros de renda mensal pelo restaurante de luxo que, certamente por acaso, o dr. Júdice explora e continuará a explorar até 2024.
Entretanto, espero também que, com rapidez, a CML deixe de pagar a água que continua a fornecer gratuitamente para a actividade deste restaurante de luxo.(...)"
O dr. Júdice parce andar um bocado perturbado com aquilo que ele considera as diatribes do seu bastonário. Se não for isso talvez o dr Júdice apenas não tenha percebido a tensão do espaço público, de que falava José Gil umas semanas atrás, e não compreenda o desejo de transparência e de rigor e o repúdio pela corrupção que são hoje uma exigência de um cada vez maior número de portugueses.


 

Pedra do Homem, 2007



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