Vasco Pulido Valente analisa as declarações de Marinho Pinto e a propósito diz algumas coisas definitivas sobre a corrupção. A tese difere ligeiramente da de JML - ver post anterior - e sintetiza-se nesta passagem: "Talvez convenha perceber duas coisas sobre a corrupção: Primeiro, onde há poder, há corrupção. Segunda, onde há pobreza, há mais corrupção."
VPV, ao contrário de JMF não atribuiu qualquer relevância ao factor legislativo. O problema resolve-se pelo enriquecimento do país, objetivo, diz ele, inalcansável a prazo visível e pela redução do Estado e da sua autoridade, coisa impossível para um Estado tão grande.
VPV nesta questão do Estado não vê muito longe. Confunde o Estado, actor principal no jogo da corrupção, com os 700 mil funcionários públicos. Confunde a pequena corrupção, a obtenção do favor, da licença, do despacho, com a grande corrupção dos grandes negócios em que alguns servidores transitórios do Estado - em regra políticos ou pessoas por eles nomeados - decidem em favor de alguns e indirectamente em seu benefício presente ou futuro. Confunde a pequena corrupção que permite ao Nicolau Breyner, aliás ao autarca de Vilanova por ele tão bem interpretado, receber aquele formoso cesto de enchidos (?) de uma sua municípe muito agradecida por um pequeno favor que ele lhe fez da outra corrupção que permite ao mesmo Nicolau receber a bela Diana Chavez, ou melhor a Vic por ela interpretada. Mas VPV, mesmo se discordamos dele, é capaz de nos arrancar um sorriso no final de uma longa discordância. A propósito do lamento de Silva Lopes, infeliz por não se meterem alguns corruptos na cadeia - a tese do combate policial à corrupção, no actual quadro legal, é um disparate sem trambelho, como inutilmente denuncia João Cravinho - VPV acaba assim: "(...) Não se metem [os corruptos na cadeia], porque, a meter meia dúzia, acabavam por se meter uns milhares, ou umas dezenas de milhares. E também, evidentemente, porque nenhuma sociedade se persegue a si mesma."
Digam lá se não tem graça?
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