O editorial de José Manuel Fernandes sobre a corrupção defende a tese de que é o excesso de legislação e a omnipresença do Estado que alimenta a corrupção.
Assim sendo a solução é simples: basta desmontar a teia legislativa que permitem que medre a corrupção e diminuir o poder do Estado e tudo melhorará.
A questão do poder do Estado discutida assim em abstracto não tem qualquer relevância. Importa saber se o Estado faz o que tem a fazer e se o faz bem, isto é de uma forma transparente, democrática, imparcial, assegurando o cumprimentos da Constituição e abstendo-se de, por acção ou omissão, introduzir factores de previlégio de uns e de exclusão de outros. É óbvio que o nosso Estado não tem cumprido essa sua obrigação. Devemos por isso falar em falta de poder do Estado ou devemos, ao contrário, discutir a natureza do Estado? O Estado que temos é ou não um bom Estado para aqueles que beneficiam das suas acções e da suas omissões?
A tese do excesso de legislação é uma tese muito utilizada mas com uma manifesta falta de aderência à realidade. Em muitas e sensíveis áreas, como a do urbanismo, um campo por excelência para o "crescimento e fortalecimento" da corrupção, existe uma clara omissão legislativa propiciadora do crescimento da corrupção de que beneficam alguns, poucos, em detrimento de todos os outros: O Estado (cativo) e a legislação (má e insuficiente) são instrumentais desse status quo, mas não pelas razões que JMF refere.
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