Daniel Sampaio, na Pública deste domingo, a propósito de uma actividade legislativa marcada pelo execesso e pela ausência de sentido, na sua opinião. Esta análise apoia-se em dois factos recentes: o primeiro foi a célebre decisão socialista de proibir as tatuagens e os piercings; o outro foi a decisão do ME de estender o conceito de "escola a tempo inteiro" aos 5º e 6º anos de escolaridade.
Sobre o primeiro tema escreve Daniel Sampaio: "(...) O problema é que a simples ideia de legislar sobre o assunto revela dois aspectos, típicos de quem nos governa: em primeiro lugar, mostra a vontade de um controlo excessivo sobre a dimensão individual dos cidadãos; em segunda perspectiva, ilustra a pressa e a falta de estudo sobre o tema.(...) Impressiona verificar como o legislador demite os pais adolescentes de qualquer atitude de proibição dos adornos corporais em causa (...) O bom senso aconselharia uma campanha de informação sobre o assunto, dstinada a pais e adolescentes, que procurasse eclarecer qual o sentido desta abundância de "decoração corporal" que caracteriza o nosso tempo.(...)"
Sobre a segunda questão escreve Sampaio: "(...) A ideia de juntar pela tarde fora mais duas horas de "enriquecimento curricular", com a inclusão de mal definidas aprendizagens como a Área de Projecto, a Formação Cívica e o Estudo Acompanhado, revela uma concepção da escola que privilegia a substituição da família. A grande decisão do ME seria a de forçar os outros departamentos governamentais a adoptarem medidas de conciliação da vida profissional com a vida familiar, de modo a que pelo menos um encarregado de educação dispusesse de um horário flexível durante a infância das crianças a seu cargo, de forma a poder retirá-la mais cedo da escola! O ME ainda não compreendeu que não é com mais aulas que se aprende mais, é através de um ensinar diferente; um ensino que permita ao professor ter uma autoridade baseada na relação que estabeleceu ; e uma aprendizagem estruturada a partir do conhecimento das crianças de hoje, que crescem estimuladas por contextos diferentes da escola tradicional (...)"
Esta segunda parte do texto encerra quase que a base de um programa moderno, socialista, para a escola pública. Algo de que este Governo foge a sete pés. Talvez por isso Daniel Sampaio não costume participar nas missas das Novas Fronteiras. Pensa de mais.


 

Pedra do Homem, 2007



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