Está na moda a critica fácil, muitas vezes àquilo que nem sequer se percebeu. Por estes dias muita gente tem criticado o Relatório do LNEC, em particular a parte dedicada á análise das questões de ordenamento do território. Algumas declarações enfatizaram a entrada em Lisboa de mais 60 mil carros um crime imputável à opção pela introdução da rodovia. Não é nada disso que se vai passar como explicou o presidente do LNEC já que são 30 mil carros em cada sentido e grande parte desse tráfego é desviado à ponte 25 de Abril. Outro argumento era o facto de a ponte Vasco da Gama ainda estar longe da saturação. Não tem nada a ver como se explica no Relatório, parte do Ordenamento do Território, capítulo dedicado à análise das travessias actuais e das dinâmicas metropolitanas.
A ponte Vasco da Gama serve outras pessoas e outros concelhos da Margem Sul e não contribui para um dos objectivos do PROT-AML que é o de reconverter as antigas áreas industriais da AML-Sul e a consolidação do sistema urbano policêntrico ribeirinho e a integração das penínsulas do Barreiro. Aí se afirma que "a opção apenas pelo modo ferroviário limitará as opções de reconversão de actividades económicas e de criação de novas actividades, e respectivo emprego às vantagens comparativas do Barreiro no quadro da Península de Setúbal, em particular do seu arco ribeirinho.(...) dependentes do modo rodoviário seja quanto à mobilidade da nova população activa seja quanto ao transporte dos produos e equipamentos que utilizam e produzem."
No debate do Prós e Contras ficou claro que o lado dos que defendem a solução Chelas-Barreiro está muito melhor fundamentado. Ignorando o triste episódio da fotomontagem distorcida, que exasperou o engº António Reis, chocado com a manipulação das dimensões da ponte e com alguns erros e efeitos primários de abrutalhamento da imagem da ponte, como a ideia de usar uma cor negra e uma densidade de tirantes que não se via nada através, os argumentos em defesa desta ponte são razoáveis, sensatos e apoiam-se numa ideia de organização do território metropolitano que está sustentada em documentos estratégicos que vinculam o Estado português.
Como referiu o engº Paulo Correia grande parte da contestação à opção tomada parte do equívoco que o engº Viegas assumiu ao defender a Lisboa das cidades gémeas, quando o que se trata é da Lisboa das duas margens. Como se pecebeu este argumento obteve o silêncio como resposta. Mas, percebe-se, o engº Viegas é um dos nossos maiores especialistas em transportes, mas não é um urbanista. Por isso é que o LNEC convidou e bem um dos nossos maiores urbanistas para o ajudar na preparação da decisão. Como se viu neste debate perde-se muito tempo a discutir à revelia dos problemas. Dá muito jeito que alguém, ainda que por alguns minutos breves, diga com clareza: os problemas são estes e estas as soluções mais adequadas por estas e estas razões.

Insisto . Leiam o Relatório.


 

Pedra do Homem, 2007



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